Bruno e André Santos, dois guitarristas portugueses originários da Madeira, são irmãos, com uma significativa diferença de idades e estilos próprios. O mais velho, Bruno (nascido em 1976), é um dos mais consistentes nomes da cena jazz nacional, com um sólido percurso como instrumentista, sendo também director pedagógico da Escola de Jazz Luiz Villas Boas, do Hot Clube de Portugal. André (1986), mais novo, acaba de dar os primeiros passos na cena jazz também como guitarrista – seguindo as pisadas do irmão, mas com um estilo diferenciado.
Para Bruno, este novo disco é mais um volume numa carreira já bastante sólida. Depois de um interessante disco com o seu Ensemble (liderando um ambicioso decateto), este novo Caixa de Música leva o guitarrista a ampliar a sua discografia com um trabalho mais conciso, concentrado num quinteto formado por quatro músicos consagrados – João Moreira (trompete), Jeffery Davis (vibrafone), Nelson Cascais (contrabaixo) e André Sousa Machado (bateria) – e um saxofonista, John Ellis (saxofones tenor e soprano), convidado em três temas.
Individualmente, há que destacar, além da clareza e suavidade do fraseado da guitarra de Bruno Santos, o saxofone de John Ellis que acrescenta brilhantina. É imprescindível referir a qualidade das intervenções do vibrafone de Davis e dos acrescentos do trompete de Moreira (também com efeitos), estes dois articulando interessantes diálogos. As composições, todas originais, estão impregnadas do habitual classicismo do guitarrista, combinando sobriedade e elegância.
Já Ponto de Partida, de André Santos, reúne alguns dos mais originais e promissores músicos da novíssima geração do jazz português. Ricardo Toscano é um incrível saxofonista que tem dado nas vistas desde a adolescência, evoluindo com tranquilidade e resistindo à tentação de editar um disco precocemente. João Hasselberg é um contrabaixista fora-de-série, que lançou recentemente, em nome próprio, um excelente álbum de estreia - Whatever It Is You’re Seeking, Won’t Come In The Form You’re Expecting. O quarteto base completa-se com o baterista João Pereira, que confirma estar ao nível dos restantes parceiros.
Ainda que o terreno natural seja o jazz, as composições de André alimentam-se de referências externas (rock, pop, folk) e é aí que assenta uma boa parte da originalidade deste disco. Zion, o tema de abertura, é exemplificativo, pela forma como a estrutura foge ao cânone, funcionando a guitarra como âncora. Os temas são interpretados com energia pelos quatro jovens músicos, que o fazem com uma maturidade fora do comum. Senhor de uma óptima técnica, André domina a guitarra eléctrica com segurança e sabe seduzir sem exagerar nos rodriguinhos. André Santos tem aqui um excelente disco de estreia, evitando lugares comuns.
Entre os dois irmãos, cada um conseguiu definir o seu estilo, personalidade e som próprio e, apesar da diferença de idades e eventual rivalidade, há uma indesmentível qualidade musical comum.
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