Alípio transforma destroços do mar em objectos de decoração

Neste atelier do Porto há sempre uma segunda vida possível para aquele objecto que tens guardado na arrecadação. Alípio de Sousa restaura mobiliário e transforma madeira vinda do mar e da serra em “objectos decorativos com alma”

Foto
Renato Cruz Santos

Num bocado de madeira aparentemente inútil há sempre um futuro possível. É essa a filosofia por detrás do Emcadeirarte, o projecto que Alípio de Sousa criou há dois anos e que se confunde com ele mesmo. Neste atelier do Porto restauram-se cadeiras (e outro mobiliário), criam-se peças por encomenda e dá-se vida à madeira vinda do mar e da serra.

A ideia começou a ganhar forma há cerca de três anos, quando Alípio deixou o trabalho de mais de duas décadas numa fábrica de cadeiras em Gondomar. Com as idas frequentes à praia surgiu a matéria-prima que viria a ser rainha das criações do Emcadeirarte: a madeira arrastada pelo mar. “Alguém me disse na altura que a minha riqueza era no mar que a ia encontrar. E assim foi”, contou ao P3.

As criações do artesão de 41 anos surgem de forma espontânea: “Quando começo muitas vezes não sei o que vou fazer. Começo a esculpir e a ideia vai surgindo, deixo-me ir.” De troncos de madeira trazidos pelo mar ou pedaços de madeira encontrados na serra, podem ser criados cabides, candeeiros, cadeiras, peças de arte, bijutaria. "Objectos decorativos com alma", resume.

Foto
Aos 41 anos, Alípio tem uma pequena mas fiel carteira de clientes Renato Cruz Santos

O mais “fascinante”, diz Alípio de Sousa, é ver um objecto que não era nada “transformado num objecto de contemplação”. As criações do artesão podem ser vistas no próprio atelier e também em feiras por onde vai passando e que funcionam como uma espécie de “barómetro de sensibilidade”.

Foto
O artesão do Porto começou a trabalhar em fábricas aos nove anos Renato Cruz Santos

De 20 a 500 euros

Foto
De pedaços de madeira nascem cabides, candeeiros, cadeiras, peças de arte e bijutaria Renato Cruz Santos

A formação feita em fábricas, onde começou a trabalhar com nove anos, transformou-o num “cadeireiro de primeira” e o próprio nome do seu atelier remete para esse lado do trabalho: do restauro (e também criação) de cadeiras.

Dependendo do tipo e do estado da peça que lhe chega às mãos, o restauro tanto pode custar 20 como 500 euros. Mas o negócio já teve melhores dias: “O Ikea veio minar não só a indústria onde trabalhei muitos anos como a do restauro”, lamenta.

A pequena mas fiel carteira de clientes que conseguiu fazer (e muita ginástica à mistura) dá, no entanto, para manter o Emcadeirarte a funcionar. “Tenho de ser restaurador, relações públicas, comercial, transportador... Mas no fim funciona”, conta.

Também os “workshops” para os quais é frequentemente convidado são uma ajuda no orçamento. Mas, mais do que isso, uma área que Alípio quer explorar no futuro. Por quê? “É importante passar a arte a outras pessoas e sobretudo aos mais novos.”

Sugerir correcção
Comentar