Jovem cria saco de pão ecológico e quer exportá-lo para o mundo

André da Silva recuperou uma tradição dos avós e criou o Saco pa-pão, invólucros de algodão 100% ecológicos que querem diminuir a utilização de plástico nas idas à padaria. Internacionalização arranca este ano

Adriano Miranda
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As contas são óbvias. Se num ano formos à padaria 200 vezes e, em vez de pedirmos um saco, levarmos um de tecido, ao fim de 12 meses há menos 200 sacos a poluir o planeta. Se um milhão de pessoas repetir a ideia, num ano produzimos menos 200 milhões de sacos.

André da Silva manda as contas para cima da mesa em jeito de início de conversa. E são apenas cálculos “feitos por baixo”, avisa: “Eu vou à padaria mais de 200 vezes por ano até e, mais importante, hoje a maior parte dos sítios não dá um saco, dá dois — um de papel e um de plástico ou dois de plástico.”

E desengane-se quem pensa que o papel diminui o impacto ambiental. “O saco de plástico é geralmente reutilizado — ou para lixo ou para ir às compras. Se o fizerem, o saco de plástico, em termos de ciclo de vida, torna-se mais ecológico do que o papel”, garante.

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Os retalhos dos tecido da marca de roupa Naturapura dão origem aos sacos de pão Adriano Miranda

Foi com esta constatação na cabeça que o jovem licenciado em Microbiologia criou o Saco pa-pão, um saco para pão feito de tecido de algodão 100% biológico. O objectivo de André é internacionalizar o produto ainda este ano para mercados como França e Roma.

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O saco está disponível em dois tamanho

Ir à padaria com um saco de tecido era já uma tradição: “Há cerca de dois anos comecei a levar os sacos da minha avó para a padaria e tinha um 'feedback' muito engraçado das pessoas.”

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Os sacos já estão em mais de uma dezena de padarias e confeitarias e podem também ser adquiridos online Adriano Miranda

A ideia começou, então, a ganhar mais força. “Decidi que ia para a frente. Fiz alguns sacos e fiz testes de mercado pondo-os à venda em algumas padarias”, contou André ao P3 precisamente na padaria Mixpão, em Matosinhos, a primeira a acolher o projecto há cerca de um ano.

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Os retalhos dos tecido da marca de roupa Naturapura dão origem aos sacos de pão Adriano Miranda

"Não preciso de saco"

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O saco está disponível em dois tamanho

“A frase mais poderosa que podemos usar é ‘não preciso de saco’”, apela: “Não é uma ideia nova: quando os supermercados disponibilizaram sacos grandes [para compra] as pessoas aderiram. E mesmo nos sítios onde não se pagam sacos [normais] as pessoas vão aderindo levando um saco de casa ou comprando um reutilizável.”

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Os sacos já estão em mais de uma dezena de padarias e confeitarias e podem também ser adquiridos online Adriano Miranda

O baptismo do projecto foi feito por Paulo Castro, o amigo que ajuda nos “bloqueios criativos” e que, como André, integra a banda Be-dom, que faz música a partir do lixo. “Tinha a ideia de brincar com o papão e não estava a conseguir. Podia ser bicho-papão, pão-pão... e ele chegou e disse 'então, Pa-pão'. E assim ficou”.

Os sacos — produzidos pela marca de roupa Naturapura, certificados com o Rótulo Ecológico Europeu e sem estampagens ou corantes —, estão disponíveis em dois tamanhos: o “zão” (45x27cm, por 8,50 euros) e o “zinho” (35x34cm, por 6,90 euros) e em três cores (branco, verde e castanho: as cores do algodão) com vários padrões (liso, riscas grossas, riscas finas). O produto pode ser encontrado em mais de uma dezena de padarias e confeitarias de Lisboa, Porto, Gaia, Viseu, Valongo e Figueira da Foz ou pode ser encomendado online, sem quaisquer custos de envio.  

O produto é feito com as “sobras de tecido” de rolos usados pela Naturapura, o que o torna o projecto ainda mais sustentável. E um saco de tecido é mais ecológico que um saco de plástico e de papel? Segundo um estudo da Agência do Ambiente britânica, se utilizarmos um saco de algodão regularmente, basta um ano para que exista um impacto positivo em termos de poupança de recursos e uma diminuição das alterações climáticas.

“Como um saco destes dura, no mínimo, uns dez anos — eu tenho ainda os da minha avó, bem mais antigos —, em termos de sustentabilidade a partir de um ano de utilização é tudo saldo positivo”, analisa André da Silva, acrescentando ainda que o estudo britânico não fala de algodão biológico, que é “ainda mais ecológico”.

A ligação de André da Silva a projectos ecológicos não vem de agora: depois de concluir a licenciatura em Microbiologia na Universidade Católica, dedicou-se à investigação na área da ecologia, deu aulas de ioga, envolveu-se na música com o Be-dom, fez voluntariado.

Há três meses, lançou também a Bio em Casa, uma empresa que entrega ao domicílio fruta e legumes biológicos certificados sem pesticidas. “Distribuímos cabazes o mais personalizados possível e com preços competitivos”, contou. Para breve está também prevista a abertura de uma quinta pedagógica onde se vai produzir para distribuir.

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