Líder do Bundesbank abre a porta a programa de estímulos do BCE
Jens Weidmann muda de posição e já admite prograna de compra de activos por parte da autoridade monetária
Membro do conselho de governadores do BCE, Weidmann é também o representante na autoridade monetária da maior potência económica da zona euro e, por isso, dificilmente passam no órgão decisões que vão contra as posições do Bundesbank. As posições que no passado recente sempre defendeu, de um papel não interventivo do BCE, tornam assim mais surpreendente a posição que ontem expressou numa entrevista concedida ao canal de notícias financeiras MNI.
Weidmann reafirma algo que sempre defendeu, ou seja, que as chamadas medidas não convencionais, como é o caso da compra de activos (quantitative easing), são "um território em grande parte inexplorado". E por isso diz entender que é necessário, antes de optar por esse caminho, fazer uma discussão sobre a eficácia do programa, sobre os seus custos e sobre os efeitos colaterais que possa ter.
Mas, pela primeira vez, o responsável admite que a compra de activos não é um cenário a descartar. "Isto não significa que um programa de quantitative esasing esteja fora de questão", refere Weidmann na entrevista ao MNI, embora acrescente que o financiamento dos Estados pelo BCE, através da compra de obrigações no mercado primário, está "fora de questão". Aí, o líder do Bundesbank não cede um milímetro.
A zona euro tem sido muito criticada por não ter recorrido a medidas não convencionais para estimular o crescimento económico, como aconteceu, primeiro, com os Estados Unidos, e, depois, com o Japão. A Reserva Federal norte-americana foi a primeira a avançar com um programa de quantitative easing, que acaba por resultar na injecção de liquidez na economia, favorecendo o consumo das famílias e os negócios. No final do ano passado, a Fed começou a reduzir as compras de activos de uma forma gradual - dos 85 mil milhões de dólares por mês que constituiram a base do programa, para os actuais 55 mil milhões de dólares.
O BCE, muito por pressão da Alemanha e do Bundesbank, nunca recorreu à chamada artilharia não convencional que outras potências utilizaram e os efeitos desse comportamento são visíveis num ritmo de retoma muito mais lento do que aconteceu, por exemplo, nos Estados Unidos - onde o recuo do desemprego é muito mais significativo e a retoma do crescimento é muito mais efectiva.
Weidmann defende, na entrevista, que a aposta em taxas de juro negativas por parte do BCE será também de considerar, porque contribuiria para retirar força ao euro, uma das ameaças à competitividade das exportações das empresas da moeda única.