É preciso relembrar o espírito de Aljubarrota

Uma vitória no próximo sábado, contra a Espanha, seria uma bonita homenagem a João Correia e a António Aguilar

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Reuters

Um Portugal-Espanha, pela sua história, é um jogo que se reveste sempre de um caracter especial. E quando falo de história não me refiro apenas ao passado desportivo, mas também aos inúmeros episódios que, ao longo de séculos, têm sido registados com o nosso país vizinho.

Quem teve a felicidade e a honra de estar em campo nestes jogos, sabe bem do que falo. Sabe e sente a rivalidade que está em jogo. Sabe bem que vencer os espanhóis é diferente. Quantas vezes Aljubarrota não foi recordada nos momentos que antecederam esses jogos…

Vencer a Espanha enche-nos de um orgulho especial e vai muito além do âmbito desportivo. Lembro-me bem da vitória em 2000, no Estádio Universitário de Lisboa, que terminou com um período de 33 anos de derrotas consecutivas com a Espanha. Lembro-me bem da equipa franzina, reforçada por alguns jogadores luso-franceses - todos eles a militar em divisões secundárias -, que lutou sem tréguas contra uma formação espanhola, recheada de jogadores profissionais, que ainda bebia dos frutos colhidos no Mundial de 1999. Lembro-me bem da diferença de equipamentos e condições de uma e outra equipa. Lembro-me bem, pois foi a primeira vitória de Portugal sobre os espanhóis desde 1967!

Mas, acima de tudo, lembro-me bem do coração, da simplicidade, da humildade e da enorme coragem com que os jogadores portugueses enfrentaram esse jogo. Lembro-me da vitória conquistada com um jogo que foi estudado ao milímetro e adaptada a cada característica de cada jogador português.

Alinharam: Vítor Silva, Joaquim Ferreira, André Silva, Pedro Vieira, Frederico Nunes, Manuel Melo, Manuel Cardoso, Luis Pissarra, Thierry Teixeira, Diogo Mateus, João Diogo Mota, Frederico Sousa, Miguel Portela e António Aguilar. No banco estiveram Carlos Castro, Jorge Carvalho, Manuel Sommer, Torban Rankine, Pedro Netto, Nuno Mourão e Salvador Amaral.

Lembro-me de comentar, no final do jogo, com o Tomaz Morais, de que o modelo implementado pela Federação Espanhola, montado em jogadores semiprofissionais, acabaria por “falir”. Lembro-me bem de falarmos e acreditarmos, sem limites, que o nosso espirito amador nos ia levar longe! Sete anos depois, Portugal estava no Mundial e a Espanha na 3.ª divisão do râguebi europeu. Entre 2000 e 2007, em oito jogos, perdemos apenas dois e conseguimos vitórias volumosas, como são exemplos as de 2003 e 2004, onde marcámos mais de 30 pontos.

Inexplicavelmente, a receita que foi incutida por Tomaz Morais nos princípios nos anos 2000, foi substituída, após a qualificação para o Mundial de 2007, precisamente pela receita que, anos atrás, havia sido aplicada pela FER com tão maus resultados. E nós tão cientes desse erro, lamentavelmente, fomos copiá-lo.

A evidente descida dos resultados da nossa selecção após o apuramento de 2007 - o sistema de semiprofissionalismo foi aplicado ainda antes do Mundial - é indiscutível. Não será tempo de arredar pé e relembrar os princípios e hábitos que nos levaram a 2007? O próximo sábado poderá ser um bom começo.

Relembrar Aljubarrota, com orgulho e humildade poderá ajudar, num jogo onde uma vitória seria uma merecida homenagem para jogadores como o João Correia e o António Aguilar que podem fazer a despedia da selecção,

Joguem com orgulho, dinâmica e humildade. Sejam astutos e audazes. Arrisquem! O enorme Vasco Uva e o fenómeno Pedro Ávila podem dar o mote.

Era também bonito podermos ver de volta o Pedro Leal, jogador a quem todos nós devemos tão importantes vitórias do râguebi nacional e que, lamentavelmente, tem sido preterido por jogadores que pouco ou nada fizeram pelo selecção.

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