Scotch whisky duplica vendas para o exterior no espaço de uma década
A bebida que se tornou no ícone da Escócia já é responsável por um quinto das exportações do país e representa 25% das vendas para o estrangeiro de alimentos e bebidas do Reino Unido
Ao contrário do que acontece com outro tipo de bebidas espirituosas, o famoso scotch whisky vive um momento de grande pujança. Patente, por exemplo, no facto de, na última década, as marcas escocesas terem praticamente duplicado as suas vendas para o estrangeiro. Os dados revelados recentemente mostram que as exportações de whisky passaram de um total de 2300 milhões de libras (cerca de 2900 milhões de euros) em 2002, para 4300 milhões de libras (5200 milhões de euros) em 2012 - ainda não estão apurados os números finais referentes ao ano passado.
Esta escalada não acontece por acaso. É que os produtores escoceses perceberam que o diamante que tinham entre mãos não estava completamente lapidado. E foram à procura de parcerias que lhes garantissem a alavancagem financeira para avançar com investimentos que potenciassem mais o produto, garantissem ganhos de escala e permitissem uma pressão de marketing que até então tinha sido impossível. E também há muito que as destilarias perceberam que dormir sobre o sucesso conquistado não seria suficiente para manter um mercado onde se assumiam interessantes alternativas, como os single malt produzidos no Japão ou os whiskies irlandeses, que fazem uma espécie de meio caminho entre o flavour escocês e o norte-americano.
"Uma combinação de negociações comerciais bem-sucedidas, excelentes acções de marketing realizadas pelo produtores, aumento das encomendas por parte dos mercados maduros e a expansão da classe média nos países emergentes ajudaram a chegar a um recorde de exportações", afirma Gavin Hewitt, presidente da Associação Escocesa de Produtores de Whisky. A indústria escocesa do whisky fez o trabalho de casa quando ele tinha de ser feito. E fê-lo bem. De tal forma que, no espaço de dez anos, conseguiu duplicar as vendas para o estrangeiro e, de 2011 para 2012, o crescimento em valor foi de 5%, apesar de um recuo no número de garrafas vendidas.
Este fenómeno tem uma explicação. É que, nos últimos anos, a indústria tem colocado um enfoque especial, nos seus esforços de promoção comercial, no whisky single malt, mais exclusivo e com propriedades que o chamado blend (em que se mistura single malt com whisky de grão) não atinge. O whisky single malt, que está no fundo na origem da bebida, é naturalmente mais caro, mas tem vindo a subir na preferência dos consumidores e tem ajudado a indústria a conseguir penetrar em mercados em que não tinha um carácter corrente e onde o poder aquisitivo tem conhecido um significativo incremento.
Há três anos, quando o PÚBLICO visitou a sede e as destilarias da Famous Grouse, os seus responsáveis reiteraram a importância que os mercados russo e asiático tinham no esforço promocional da empresa e no conjunto de acções de marketing que tinham em curso nessas paragens. Apesar deste esforço de diversificação de mercados, cujos frutos demoram sempre algum tempo a ser colhidos, o scotch tem conseguido também reforçar a presença em mercado maduros, onde a concorrência é severa e que se pensava estarem esgotados em capacidade de expansão.
O caso mais notável é o dos Estados Unidos, para onde as vendas de whisky escocês aumentaram cerca de 150% no espaço de uma década, passando de cerca de 300 milhões de libras em 2002 para quase 760 milhões em 2012. O caso francês é também muito interessante, com uma quase duplicação de exportações no espaço de dez anos, e o de Singapura é verdadeiramente surpreendente, com uma entrada de rompante para o grupo dos cinco mais, com compras de scotch de 340 milhões de libras em 2012.
Os responsáveis da indústria garantem que não estão a dormir em cima do sucesso. "Estamos a contribuir massivamente para uma retoma económica liderada pelas exportações. Temos confiança no futuro da indústria, que está ilustrada no compromisso dos produtores de investirem 2000 milhões de libras nos próximos três a quatro anos" sustenta Gavin Hewitt.
Com a Europa estabilizada e uma parte significativa da Ásia já conquistada, os próximos alvos da indústria serão a América Latina, África e China, onde os produtores já começaram a trabalhar, mas no quadro de um regime que não concede facilidades.
Preciosidade da Macallan bate recorde de preço
Uma das marcas de referência no mundo do single malt é a casa Macallan. Situada nas chamadas Highlands, muito perto do rio Spey, a destilaria situa-se num espaço de natureza que é um encanto para os olhos e produz whiskies que são uma bênção para o nariz e o palato. Há muito que a Macallan se atirou à tarefa de descobrir preciosidades entre as centenas de milhares de barris de spirit que conserva nas suas adegas. E começou por lançar para o mercado whiskies de ano, em edições limitadas correspondentes em garrafas à quantidade de barris que se encontravam nas profundezas dos armazéns. Conseguiu, para os anos mais distantes, preços que ninguém acreditava serem possíveis.
Mas para que ninguém pensasse que a capacidade de inovação tinha secado, a Macallan decidiu recentemente avançar para um peça que, mesmo não sendo única, andaria lá por perto. E assim nasceu o Macallan M, um whisky muito raro que resulta da combinação do produto de sete cascos escolhidos num trabalho de filigrana que demorou dois anos e que é composto por single malts com idades que variam entre os 25 e os 75 anos.
Uma preciosidade deste tipo não poderia ser colocada numa garrafa qualquer. E, por isso, a destilaria desafiou os mestres vidraceiros da Lalique a criarem uma garrafa, com capacidade para seis litros, que é uma obra-prima no panorama garrafeiro mundial. Foram produzidas quatro garrafas. Uma delas foi a leilão, em Hong Kong, e rendeu, simplesmente, 380 mil libras (quase 460 mil euros).