João Marcelino, 53 anos, é pai de seis filhos. Vive no Montijo e é examinador de patentes em Lisboa. As viagens de trabalho, que o levaram a cidades europeias como Copenhaga, Munique, Haia, Genebra e Londres, abriram-lhe horizontes. Constatar que tanta gente andava de bicicleta, apesar do mau tempo e até apesar de geografias tanto ou mais acidentadas que Lisboa — "por exemplo, Genebra não é propriamente plana” —, fê-lo pensar que também poderia fazer o mesmo. Não havia desculpa. O empurrão final foi ter constatado que precisava de ter menos quilos para manter a saúde e aproveitar os tempos de deslocação de casa para o trabalho, e vice-versa, para fazer desporto. O ter que acorrer às necessidades constantes de uma família numerosa não lhe deixa nem tempo nem vontade para ir a um ginásio fazer desporto, afirma João.
De que formas usas a bicicleta à sexta-feira?
A sexta feira não é diferente dos outros dias: vou de casa até à estação de barcos do Montijo a pedalar, uns sete minutos, atravesso o Tejo com ela no barco e depois monto outra vez para fazer um minuto entre o Cais das Colunas e o Cais de Santarém, no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), onde trabalho. À tarde, faço o caminho inverso. No Montijo, para resolver pequenas questões, como ir à farmácia, sapateiro, loja de ferragens, etc., vou sempre de bicicleta, porque é mais rápido. Em Lisboa, às vezes aproveito a hora do almoço para tratar de algum assunto, ou almoçar com algum amigo noutro ponto da cidade, e vou também de bicicleta. É muito mais rápido, cómodo e, depois do almoço, uma pedaladazita ajuda a digestão.
O que muda na tua vida nas sextas-feiras em que levas a bicicleta contigo?
Previsibilidade nos tempos de deslocação, sensação de liberdade, satisfação por saber que não estou a gastar dinheiro, não estou a poluir e estou a contribuir para a própria saúde.
Existem alguns mitos (sobre a utilização da bicicleta) que tenhas vencido?
Os mitos de pensar que se fica a cheirar mal depois do percurso, de pensar que se fica com dores musculares ou cansado para o resto do dia. E também o mito de que é muito perigoso e os automobilistas não respeitam o ciclista.
O que poderia melhorar nos percursos que realizas?
A estrada de acesso ao Cais do Seixalinho, no Montijo, precisaria de ser arranjada, porque está cheia de buracos e é insegura para os ciclistas.
Um momento em que te sentes mesmo bem a andar de bicicleta.
Sempre que vejo o rio no horizonte, isso transmite-me um sentimento de paz e harmonia.
Uma pessoa da praça pública que gostarias de ver a andar de bicicleta e porquê?
Gostava de ver o Passos Coelho e o António José Seguro numa bicicleta "tandem". Seria uma postura que só lhes ficava bem, para dar o exemplo. A austeridade tem que começar pelos de cima, e andar sistematicamente em carros de alta cilindrada, como se fosse pouco dignificante andar de transportes públicos ou numa humilde bicicleta, é algo que já ninguém entende.
O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na tua cidade é impossível?
Eu também pensava assim até ter vencido o preconceito. É só dar o primeiro passo.