Portugal está entupido de sonhos. Os pais tentam explicar isso aos filhos, sem lhes cortarem as pernas à fé, mas, por mais que os queiram proteger do vazio que vem a seguir, já (quase) não conseguem.
O país está roto de esperança. Os portugueses só ainda não desistiram porque fazem por não deixar escorregar as famílias da corda bamba.
Somos a geração que tem tudo para ser interventiva e estar alerta mas nem sempre temos espaço (que é como quem diz, voz) para isso. Salve-nos a fé na cultura. Ampare-nos quem transmita a mensagem desta geração com um nó atado na garganta, sempre tentadoramente confundida com uma geração encostada ou preguiçosa. Nós – semi-trintões que precisamos de esperança, seja ela em batatas ou em chocolates — queremos que se grite a nossa mensagem para lá de muitos textos de opinião e de muitas rábulas com (ou sem?) piada, mais alto, como quem precisa de se fazer ouvir. Ainda não nos rotularam de geração à rasca mas o que será na prática pior do que estar à rasca de eco das nossas preocupações?
Haja quem as cante. Haja quem faça da música o veículo do que nos consome. Sim, é “cinzenta a Alemanha” e a saudade consegue ser “tamanha”. A emigração até pode ser a escola de uma vida mas não nos convençam de que sair do país é um passo graúdo para a emancipação. Deixem-nos escolher viajar. Viajar é incrível, de facto, mas a haver dinheiro e vontade para isso. Não pintem bonito um quadro que nunca foi porque nunca vamos conseguir “comprar amor pelo jornal” e a essência das coisas sentidas é que “ninguém sai”, objectivamente, “de onde tem paz”.
Também eu faço parte da “geração currículo” com “dez estágios no Japão, cinco cursos, doutorados, recibos verdes e pão”. Também eu tenho amigos “às cegas” e colegas “enterrados no sofá” que “voltam para casa dos pais, que fartos, berram: 'Agora, todos lá p'ra trás! “ Haja música que ecoe isto alto. Faça-se melodia, a partir do que não tem graça nenhuma, e assim nos desatem um bocadinho do nó que nos encrava a garganta. Também eu esmoreço todos os dias perante este “país tão engraçado, a comprar o que não quer, submarinos estragados, autoestradas de aluguer”. Este país que nos manda “a todos lá para trás”. E tão lá para trás estamos nós a ir que ficamos, ironicamente, cada vez mais longe dos “braços” da nossa “mãe”.
Obrigada, Pedro Abrunhosa, por dedicares tempo, gastares letra e música a gritar por uma geração que não é a tua, mas por um país que é tão teu como o descreves nas canções. Obrigada por cumprires a missão última da cultura, sem tentares pintar de bonito um país entupido, cheio de nós por desatar na garganta dos sonhos.