Um olhar sobre o livro “Austeridade”, de Mark Blyth

Este autor é o rosto de uma nova política normativa económica que visa alcançar um novo rumo, mas, além disso, também, procura explicar a visão perigosa da austeridade

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Hugo Correia/Reuters

A austeridade, como é do conhecimento público, retomou com a última grande crise de 2009. É necessário dizer que esta crise foi um contágio americano, dado que as grandes instituições bancárias e financeiras norte-americanas espalharam o seu lixo tóxico pelos bancos europeus. Sim, esta é uma crise da banca. Verdade que a nossa memória, por vezes, é curta, no entanto, engane-se quem pensa que tal crise se trata de uma hecatombe da dívida pública.

Assim, Portugal, Irlanda, Itália, Grécia, Espanha, Lituânia, Letónia, Roménia, Estónia e Bulgária, foram dos países mais massacrados com esta austeridade suportada ideologicamente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e pela Comissão Europeia (CE). Esta base ideológica advém da “Escola de Harvard”. Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff são os bastiões da ideia-chave austera de cortar na despesa e aumentar as taxas e impostos para solucionar a apoteótica crise.

No livro “Austeridade: A História de uma Ideia Perigosa” (Quetzal, 2013), Mark Blyth analisa essa ideia de uma necessidade de o mundo participar na austeridade. Num primeiro momento, tudo se deve e gira em volta da falência do banco Lehman B. e a posterior crise nos EUA e Europa. Num segundo momento, para evidenciar os erros intelectuais da história na obsessão com a austeridade, traça um percurso desde John Locke, David Hume, Adam Smith (este e David Ricardo são os clássicos da economia) até ao neoliberalismo britânico, ao “ordoliberalism” alemão, pensamento austríaco e ao monetarismo de Friedman. Por outro lado, Mark Blyth contraria os fundadores da escola pública Bocconi na Universidade de Milão acerca da opção pela austeridade como uma alternativa viável, apresentando os casos de insucesso nos EUA, Inglaterra, Japão e França (os mais conhecidos).

Como tal, Mark Blyth apresenta, após comparar o caso gritante da Islândia com o da Irlanda, soluções assentes numa política de partilha de encargos direcionada num plano político macroeconómico expansionista suportado por controlo do capital, aumento de impostos sobre escalões da classe do topo e medidas para auxiliar as famílias com poucos rendimentos (com o intuito de consumirem e alimentarem o tecido convencionado por Keynes). O autor alerta que tais medidas podem levar, a curto-prazo, a um aumento da dívida, porém é a solução para impulsionar o salto económico para a consolidação fiscal.

Em suma, este autor é o rosto de uma nova política normativa económica que visa alcançar um novo rumo, mas, além disso, também, procura explicar a visão perigosa da austeridade (de forma objetiva e bem argumentada). A grande expressão do livro é a seguinte: “Transformámos a política da dívida numa moralidade que desviou a culpa dos bancos para o Estado. A austeridade é a penitência — a dor virtuosa após a festa imoral —, mas não vai ser uma dieta de dor que todos partilharemos. Poucos de nós são convidados para a festa, mas pedem-nos a todos que paguemos a conta”. Brilhante. Todavia, aconselho a todos a comprar este livro e a ler com muita atenção, na medida em que nos ajuda a compreender um erro que não é nosso. 

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