O passo que falta: um calendário regular de leilões
Tesouro reafirma intenção de realizar leilões já na primeira metade do ano.
As emissões sindicadas têm a vantagem para o Governo de serem muito mais fáceis de prever. Os bancos conseguem saber junto dos seus clientes se há ou não interesse em investir na dívida portuguesa. Quando se decide avançar para a operação, a certeza de que será bem sucedida já é bastante elevada.
É por isso que, desde que em Janeiro de 2013 voltou a tentar o financiamento de longo prazo no mercado, foram realizadas quatro emissões, todas elas sindicadas. E a Irlanda tem seguido a mesma estratégia.
No entanto, para se dizer que Portugal conseguiu mesmo obter um acesso efectivo aos mercados tem de conseguir passar para outro tipo de emissões, os leilões. Antes da crise esta era a forma preferencial de acesso aos mercados, até porque em princípio garantem taxas de juros mais baixas para quem está a emitir.
Até agora, o Governo não arriscou a passagem para os leilões. O problema principal é que para o fazer terá de assumir a apresentação de um calendário regular de emissões, algo que exige uma confiança grande em que o actual cenário de acalmia nos mercados em relação a Portugal é para manter durante muito tempo.
No entanto, o Executivo parece disposto a correr esse risco brevemente. No comunicado a seguir à emissão desta terça-feira, a Agência para a Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP reafirmou a intenção de avançar ainda na primeira metade deste ano para leilões de obrigações de tesouro. Em princípio, estas operações, com valores entre 1000 e 2000 milhões de euros, serão realizadas às segundas e quartas quartas-feiras de cada mês.
Para que isto aconteça é necessário garantir uma base regular de investidores. Na emissão sindicada a 10 anos agora concretizada, registou-se uma participação de investidores estrangeiros a rondar os 83%. Segundo o IGCP, 17% do montante colocado foi adquirido por investidores portugueses, um valor que é ligeiramente superior ao registado em emissões de dívida anteriores. Em Maio de 2013, numa emissão também a 10 anos, a participação de portugueses tinha sido de 14%. Em Janeiro, numa emissão a cinco anos, este indicador tinha ficado nos 12%.
Entre os estrangeiros, a maior novidade desta emissão vai para os investidores provenientes da Escandinávia (Dinamarca, Suécia e Noruega) e do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo). O primeiro grupo de países foi responsável por 15% do investimento, o segundo por 12%.
Por tipo de investidor, não se verificaram alterações significativas em relação às últimas emissões, com os denominados investidores institucionais a manterem uma exposição relativamente baixa em relação à dívida portuguesa. É verdade que os bancos passaram a representar 24% das compras de dívida, contra 17% em Maio do ano passado, mas as seguradoras e fundos de pensões passaram de 12% para 9%. Este tipo de investidores, de mais longo prazo, continuam limitados no volume de títulos com rating “lixo” que podem deter.