Uma História de Amor

Spike Jonze gosta de fábulas. Aqui, tem uma ideia magnífica: a fábula do homem que se apaixona pela voz e pela inteligência artificial do sistema operativo do seu computador, pretexto para levantar questões sobre a essência do amor e sobre o que faz de nós humanos. Tudo bem, mas Jonze já fez isto antes, muito melhor e com mais pontaria: numa curta maravilhosa (mostrada em Vila do Conde) chamada I''m Here (2010), história de amor entre dois robôs (que é identificada obliquamente no genérico de fim como origem criativa deste filme). Ao reinventar a premissa para longa-metragem, patina ao estender o que funcionava na perfeição em 30 minutos para duas horas, e a sua sátira gentil resvala para a piada expandida artificialmente, incapaz de sustentar o peso que Jonze lhe atira para os ombros. É pena, porque não fosse isso estaria tudo no sítio, a começar pela visão perturbantemente idílica de um futuro tecnologicamente radioso e a acabar na notável performance vocal de Scarlett Johansson a dar voz ao computador. Podia ser uma obra-prima, não passa de uma versão hipster de Electric Dreams, com Arcade Fire no lugar de Giorgio Moroder.

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