Editorial: Contratar um presidente

Passos quer um presidente sossegado em Belém. Estarão Barroso e Santana dispostos a aceitar esse contrato?

O documento diz que o Presidente "não pode colocar-se contra os partidos ou os governos como se fosse mais um protagonista político”. Deve ainda evitar “tornar-se numa espécie de catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes” ou ser um “catavento de opiniões erráticas”.

Esta última frase foi lida como um veto a Marcelo Rebelo de Sousa, como o próprio comentador reconheceu. Mas o verdadeiro significado do documento é outro. O que Passos está a dizer ao próximo candidato presidencial do PSD é que quer um presidente sossegado em Belém.

É fácil perceber porquê. Ao contrário do que é voz corrente à esquerda, o primeiro-ministro nem sempre contou com o apoio de Cavaco Silva. O Presidente rendeu-se a Passos na crise de Julho e, a partir daí, ficou sem margem para fazer mais do que obedecer ao Governo.

O primeiro-ministro, como é natural, gosta da experiência. E não gostou da fase em que Cavaco tentou exercer o seu papel. O problema foi tê-lo escrito numa moção de estratégia.

Mesmo ressalvando que o candidato deve apresentar-se em nome pessoal, o primeiro-ministro já comprometeu esse eventual candidato com uma leitura dos poderes presidenciais definida pelo partido. E só apoiará um candidato que aceite esse caderno de encargos.

Na sua visão utilitarista e funcionalista, o primeiro-ministro gostaria de olhar para a Presidência como um cargo para o qual se contrata alguém por concurso. Mas a essência do semipresidencialismo português é o oposto disso. Não foram, aliás, poucas as vozes que, em momentos recentes, sugeriram que a resposta à crise era um reforço vertente presidencialista do regime. O primeiro-ministro tem outra ideia.

Estarão Durão Barroso ou Santana Lopes dispostos a candidatar-se de acordo com este contrato?
 
 
 
 Correcção introduzida às 12h45: Onde se lia  "Esta última frase foi lida como um veto a Marcelo Rebelo de Sousa, o que terá algum fundo de verdade", escreveu-se "Esta última frase foi lida como um veto a Marcelo Rebelo de Sousa, como o próprio comentador reconheceu,", tal como surge na versão imprensa do editorial.
 
 
 

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