Hospital privado fez pela primeira vez doação de órgãos para transplantes

Directiva europeia obriga a que todos os hospitais com unidades de cuidados intensivos tenham que ser dadoras, incluindo as privadas.

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Doentes com hepatite C em estado grave precisam muitas vezes de receber transplante de fígado AFP

Numa nota enviada à comunicação social, a unidade congratula-se pelo facto de assim “dar o seu contributo ao esforço nacional na área da transplantação, agradecendo à família do dador e a todos os profissionais envolvidos neste procedimento.”

Existem 34 hospitais no país que actualmente são dadores de órgão para transplantes, ou seja, são unidades que estão obrigadas a identificar potenciais dadores e a mantê-los ventilados pelo menos durante 24 horas até ser possível a colheita. Em resultado da legislação europeia, o número de hospitais vai subir para 48, havendo pela primeira vez unidades privadas na lista, disse no mês passado ao PÚBLICO Ana França, coordenadora nacional de transplantação.

Ana França confirma agora que esta foi a primeira unidade privada a avançar, tendo havido “uma autorização pontual para este caso”, uma vez que as unidades privadas ainda estão em processo de autorização por parte da Direcção-Geral da Saúde. “Se houver dadores entretanto não vamos perder órgãos por razões processuais”, sublinhou. “Esta é a demonstração de que os hospitais privados podem participar neste acto público de doação.”

Na lista de hospitais privados que passam a estar obrigados a fazer doações estão todos os que têm unidades de cuidados intensivos, explica. Na lista estão os hospitais da Luz, Lusíadas, Cuf Descobertas e Infante Santo, em Lisboa, e os hospitais da Boavista e da Arrábida, ambos no Porto.

A responsável reconhece ao PÚBLICO que a diminuição do número de hospitais dadores para 34 demonstra “algum desinteresse [pela actividade]”. Em 2000, quando houve um pico da actividade de transplantação, eram 40 unidades.

A directiva europeia de 7 de Julho de 2010, transposta para a legislação nacional em Junho deste ano, obriga a que “todos os estabelecimentos que disponham de cuidados de suporte ventilatório” estejam obrigados “à imediata disponibilidade para a realização de colheita de órgãos.”

Ana França não tem estimativas quanto ao número de órgãos que serão colhidos em unidades privadas, mas diz que “nem que dêem um dador por ano já representa mais órgãos”.

Na sua opinião, está a assistir-se a uma inversão da descida de transplantes, notando que “em Outubro houve mais 20 dadores do que em igual período do ano passado”. Mas longe vão os tempos em que Portugal estava quase no topo das tabelas de transplantes a nível mundial, juntamente com a Espanha. Em 2000, tinha um rácio de 31 transplantes por milhão de habitantes. De há quatro anos para cá estes números tem vindo a descer, admite Ana França. O Ministério da Saúde pediu que se tentasse perceber as razões e, em Junho último, o secretário de Estado da Saúde, Leal da Costa, fez um despacho com várias recomendações para tentar inverter essa tendência.

Um dos problemas apontados no relatório para explicar a diminuição da transplantação de órgãos mantém-se: a falta de camas em cuidados intensivos, notou o presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, Ricardo Matos, em declarações já prestadas ao PÚBLICO. Em Portugal, há cerca de 55 unidades de cuidados intensivos com um total de cerca de 500 camas, o que dá um rácio de cinco camas por 100 mil habitantes, “um número baixo”. Na União Europeia, ronda as 14, nota. É nestas unidades que é feita a identificação de dadores, a sua manutenção durante pelo menos 24 horas e depois o diagnóstico de morte cerebral que precede a colheita.

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