Escolas superiores de Educação do país param 12 minutos contra declarações de Nuno Crato

Se até ao final de Janeiro o ministro não apresentar um pedido de desculpas, as escolas ponderam novas acções.

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Já há 23 escolas interessadas nas aulas de mandarim. Rui Gaudêncio

A iniciativa desta quinta-feira chama-se 12 minutos pelas ESE e inclui-se na jornada As escolas superiores de Educação no contexto do sistema educativo português – Contributos e factos, que vai decorrer ao longo do ano e que inclui outras acções, como a realização de um congresso no qual serão apresentados estudos e dados sobre a formação nas ESE.

O objectivo é apresentar “dados relevantes sobre a formação de professores e educadores ministrada nas ESE, desde a sua criação, bem como o papel fundamental que as mesmas têm tido no desenvolvimento do sistema educativo português”, explica Rui Matos, presidente do conselho directivo da ARIPESE - Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das ESE, entidade que promove a iniciativa.

Nesta quinta-feira, em todas as escolas haverá distribuição de folhetos com informações sobre a formação ministrada e ainda uma paragem às 16h00, na actividade normal destas instituições, de 12 minutos – o mesmo tempo que durou a entrevista televisiva de Crato à RTP. O resto do programa desta quinta-feira varia consoante as escolas, mas de uma forma geral incluirá a intervenção de professores, educadores, e ex-alunos.

Na origem desta iniciativa está a entrevista que o ministro Nuno Crato deu em Dezembro e na qual afirmou que o sistema de formação de professores “tem várias falhas” e que “há professores licenciados por universidades e há professores licenciados por escolas superiores de Educação que têm características diferentes e critérios de exigência muito diferentes”.

Depois da entrevista, o Ministério da Educação e Ciência esclareceu que Nuno Crato “se referia ao conjunto do sistema de formação inicial de professores, que tem programas curriculares diversos, dizendo que há diferenças entre as diversas escolas de formação de professores, sejam universitárias, sejam politécnicas, referindo ‘essas escolas’ no seu conjunto, e sem fazer juízos de qualidade que distinguissem escolas politécnicas por um lado e universitárias por outro”.

Apesar do esclarecimento, a ARIPESE continua a não se conformar com as declarações que ouviu na televisão e mantém a exigência, feita no final de Dezembro, de um pedido de desculpas do ministro. “Esse pedido não chegou a acontecer. Mas tivemos o cuidado de informar o ministro desta iniciativa para, se quisesse, aproveitar a acção para pedir desculpa”, diz Rui Matos, acrescentando que o limite acordado pela ARIPESE para aguardar pelo pedido de desculpas é até ao final de Janeiro. Se tal não acontecer, farão nova reunião para definir mais iniciativas.

Depois da entrevista televisiva, a ARIPESE fez uma reunião, à qual compareceram dez dos 15 presidentes de institutos politécnicos do país, bem como os presidentes das ESE, e na qual foi exigido formalmente um pedido de desculpa a Crato.

“O senhor ministro da Educação e Ciência ofendeu as ESE numa entrevista à RTP no passado dia 18 de Dezembro, menosprezando a qualidade da formação de professores e educadores de infância por estas escolas realizada”, escreve em comunicado a ARIPESE, que considera ainda “muito grave” que o ministro que tutela o ensino superior “lance para a opinião pública a dúvida sobre a qualidade da formação que as instituições ministram, sem dados concretos que o sustentem, e desvalorize o trabalho realizado ao longo de muitos anos pelas escolas superiores de Educação, quer na formação inicial, quer na formação contínua de educadores e professores”.

A ARIPESE representa 12 das 13 ESE públicas do país. A única escola que não integra a associação é a da Guarda, mas também esta instituição irá participar na Jornada de Reflexão.
 
 
 
 
 

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