A história de um congresso sem história

No XXV Congresso do CDS-PP, o discurso de Paulo Portas não empolgou e não surpreendeu.

Na sua primeira intervenção no congresso, que decorre neste fim-de-semana em Oliveira do Bairro, o discurso de Paulo Portas foi quase todo ele um déjà vu. E o que faltava ainda vislumbrar – um possível casamento com o PSD para as legislativas – ficou adiado para outras núpcias. Portas apenas fez juras de que o CDS nunca será igual ao PSD.

Um congresso sem história. Aliás, como é habitual nas histórias dos congressos dos partidos que estão no poder. Sem dramas, sem questionar a liderança. Ribeiro e Castro nem sequer foi a Oliveira do Bairro; Nobre Guedes, com ou sem a presidência do Conselho Nacional, está mais alinhado do que desalinhado; e Filipe Anacoreta Correia nesta altura não tem peso para beliscar a liderança de Paulo Portas. E o líder do CDS-PP, que entrou no congresso como putativo primeiro-ministro (como dizia ontem Nuno Melo ao JN), potencial comissário europeu (como se especula no partido) ou como possível candidato a Belém (como almeja Pires de Lima), vai sair do congresso como entrou, líder do CDS. E o líder centrista garantiu ontem: "Sou de ficar, não de abandonar." E vai ficando.

Um congresso que tenta reescrever a história. Mas em grande parte do discurso, Portas despiu a camisola de líder do CDS e vestiu as vestes de vice-primeiro-ministro. E com as bases do partido a reclamar por uma explicação para a “demissão irrevogável”, para os aumentos de impostos, e para os infindáveis cortes nas pensões. Sobre a crise política do Verão, Portas dedicou-lhe uns escassos três minutos, num discurso de uma hora. Deu a sua versão dos factos e resumiu a explicação numa frase: “O que teve de ser teve muita força.” Pouco ou nada acrescentou ao que já sabíamos. Sobre o aumento dos impostos, a culpa, segundo Portas, é da troika e do Constitucional. E sobre os sinais ténues de crescimento, os números da agricultura e o bom ano que vive o turismo? Aí a culpa já é dos ministros do CDS, que, um a um, foram aclamados como responsáveis pela parte da governação que está a correr bem ou menos mal. E a linha vermelha da TSU dos pensionistas foi apagada do mapa político com a justificação de que a dita TSU acumulava com a convergência e com a CES. Sendo que, nos primórdios da história da austeridade, a TSU dos reformados supostamente deveria servir para substituir a CES. E a convergência, nessa altura, ainda não tinha saído do papel.

Um congresso a antecipar a história. Para o futuro, Portas antecipa um Portugal para além da troika. Um Portugal que terá uma comissão para estudar o plafonamento da Segurança Social, ainda que não se saiba muito bem quem financiará o sistema quando abdicarmos de parte da contribuição das pensões mais altas. Um Portugal onde, segundo Portas, haverá uma viragem económica, que vai gerar riqueza suficiente para baixar a dívida e descer impostos em 2015, ano de eleições. Como se baixará impostos ao mesmo tempo que se cumpre com um eventual programa cautelar ou com o pacto orçamental, logo se verá. Resumindo, um congresso sem história.
 
 
 

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