As lojas com licença ainda são só 37 mas, ao fim de uma semana, desde que o estado norte-americano do Colorado passou a poder vender legalmente "cannabis" para uso recreativo, o balanço já é elevado: as vendas alcançaram os cinco milhões de dólares, mais de 3,6 milhões de euros. O balanço foi feito pelos próprios lojistas ao jornal "The Huffington Post", ao qual admitiram que os primeiros dias foram de bastante procura, apesar de os primeiros dados oficiais só serem divulgados no final de Fevereiro, quando toda a contabilidade relativa aos impostos de Janeiro tiver de estar fechada.
Logo no dia 1 de Janeiro, que marcou o arranque, dezenas de clientes esperaram ao frio, com neve, a abertura de portas de lojas, em Denver — com várias pessoas a quererem ser as primeiras a comprar "cannabis" ou simplesmente a assistir à venda legal da mesma para fins recreativos a maiores de 21 anos, um facto inédito em território dos Estados Unidos, onde tem sido privilegiada a proibição e a repressão dos consumidores e a luta contra produtores e traficantes.
Aliás, a procura foi de tal forma grande que os donos das lojas optaram por impor limites à quantidade que cada pessoa podia comprar, inferiores aos legais, e por subir os preços, para evitar uma ruptura de stock e que as pessoas guardassem quantidades muito grandes em casa.
Até agora era permitido legalmente o consumo de "cannabis" para fins médicos em 19 estados. Nos dias seguintes, relata o "The Huffington Post", o número de interessados baixou, mas mesmo assim havia lojas com fila.
Dentro de alguns meses, o exemplo para fins recreativos será seguido no estado de Washington, onde se prevê que as primeiras lojas possam abrir ainda durante o primeiro semestre. Quer no Colorado quer no estado de Washington, o cultivo, a distribuição e o "marketing" serão supervisionados pelas autoridades locais. Mas a venda está também a criar oportunidades para outros negócios: ainda antes de 1 de Janeiro, a AFP noticiou que algumas empresas do ramo turístico estavam a incluir nos seus programas uma passagem por esta novidade.
Limites federais e problemas com os bancos
Em relação aos residentes no Colorado, basta que tenham um documento de identificação que garanta que têm 21 anos ou mais para poderem comprar até uma onça (aproximadamente 28 gramas) de "cannabis" de cada vez; os de fora do estado podem comprar menos, um quarto de onça. É proibido consumir em público, incluindo nas lojas. Uma onça de qualidade média custa 196 dólares (143 euros); em Washington será um pouco mais barato, 192 dólares por onça, segundo o site "Preço da Erva" ("Price of Weed"), onde os consumidores podem escrever quanto pagaram pelo que compraram.
Quanto às divergências entre as leis federais e as mudanças no Colorado, o Departamento de Justiça já garantiu que não levantará problemas desde que o estado garanta a venda mesmo só a maiores de 21 anos, que nada seja vendido fora do Colorado, que o consumo não seja feito em espaços públicos e que se controlem os casos de condutores sob o efeito da droga.
Do lado das instituições bancárias também têm existido algumas resistências em acolher o dinheiro destas lojas e em disponibilizar terminais para pagamento com cartões de débito (os de crédito estão proibidos), e o problema ainda está a ser estudado. O "Wall Street Journal" diz que Departamento de Justiça está a fazer uma espécie de guia de boas práticas para os bancos e para haver uniformização.
Alasca será o seguinte?
Campanhas para que referendos sobre esta questão sejam realizados estão em curso em estados como a Califórnia, Arizona e Oregon. E o Alasca, adianta a "Time", já deu um passo que o coloca mais perto do mesmo rumo do Colorado: os grupos pró-legalização entregaram um documento com 45 mil assinaturas ao governador que permitirá uma primeira decisão sobre a medida já em Agosto.
Foi há um ano que os legisladores do Colorado e de Washington aprovaram leis que tornam estes estados os primeiros onde se vende livremente "cannabis" para fins que não médicos. Até ao final do ano, o Governo do Colorado e a câmara municipal receberam mais de 130 pedidos de licença, a maior parte delas para lojas em Denver, que só podem abrir e vender depois de receberem as licenças estaduais e locais. Neste estado, as licenças podem ser pedidas até 1 de Julho, mas apenas por empresas já certificadas no negócio para fins medicinais. Em Denver — a cidade dos EUA onde há um maior número de dispensários deste produto —, a data limite para a requisição de licenças de venda vai até Janeiro de 2016.
A legalização, que visa sobretudo combater o tráfico e o mercado negro, estima-se que terá também um grande impacto em termos económicos. O estado do Colorado divulgou números oficiais onde admitiu que poderá ter receitas anuais na ordem dos 578 milhões de dólares (mais de 420 milhões de euros), incluindo 67 milhões (48,7 milhões de euros) em taxas para os cofres públicos, adiantou a Reuters.
Em Outubro de 2013, pela primeira vez, uma sondagem do Instituto Gallup revelou que a maioria dos norte-americanos se mostra favorável à legalização de "cannabis". Os opositores são maioritários apenas no seio da população mais idosa. Cerca de 58% dos inquiridos apoiam a legalização do consumo, enquanto 39% se opõem.
Em Dezembro, o Uruguai tinha-se tornado também pioneiro, ao ser o primeiro país do mundo a legalizar a produção, distribuição e venda de "cannabis", que ficará nas mãos do Estado. Quando a lei entrar em vigor, em Abril de 2014, os maiores de 18 anos poderão comprar um grama por um dólar (pouco mais de 70 cêntimos) em locais próprios e com limites. O preço será ajustado ao valor praticado no mercado ilegal para ser possível combater o tráfico e reduzir a criminalidade associada ao sector.