Vídeo de imigrantes nus em Lampedusa choca Itália
Comissão Europeia denunciou os “tratamentos chocantes” e ameaçou Roma com sanções.
As imagens foram captadas com um telemóvel e exibidas na estação televisiva Rai nesta segunda-feira à noite. O vídeo mostra dois emigrantes nus e outros que se estão a despir, ao mesmo tempo que vários funcionários, homens e mulheres, trabalham no local. Um dos homens sem roupa está a ser aspergido.
O homem que captou as imagens, um refugiado sírio, afirmou à Rai que o método serve para a aplicação de um tratamento contra a sarna e que é repetido várias vezes, com os imigrantes a serem obrigados a estar nus num espaço ao ar livre. Acrescentou ainda que os imigrantes são tratados "como animais".
O presidente da câmara de Lampedusa, Giusi Nicolini, afirmou à Rai que as imagens fazem com que o centro pareça “um campo de concentração” – uma comparação feita por vários órgãos de comunicação – e que o país inteiro devia ter “vergonha”. “Isto não é o que estávamos à espera de ver apenas dois meses depois dos naufrágios que provocaram tristeza, lágrimas, compromissos e promessas”.
Só em Outubro, os naufrágios ao largo da ilha de Lampedusa causaram a morte de perto de quatro centenas de pessoas que tentavam entrar no país.
A presidente da Câmara dos Deputados, Laura Boldrini, disse que o tratamento a que os imigrantes estavam a ser sujeitos não era “digno de um país civilizado”. Já o Ministro do Interior, Angelino Alfano, assegurou que um relatório completo estaria pronto em 24 horas e que “quem errou vai pagar”.
A Comissão Europeia denunciou os “tratamentos chocantes” infligidos aos migrantes em Lampedusa e ameaçou Roma com sanções. “Abrimos um inquérito sobre os tratamentos chocantes em muitos centros de retenção, incluindo o de Lampedusa, e não hesitaremos em lançar um procedimento de infracção”, disse já esta quarta-feira a comissária europeia dos Assuntos Internos, Cecilia Malmström.
“As imagens do centro de Lampedusa são chocantes e inaceitáveis”, declarou Malmström em comunicado. “Vamos contactar as autoridades italianas para exigir explicações sobre o que se passou”.
O chefe do governo italiano Enrico Letta prometeu de seguida um inquérito “aprofundado” sobre o comportamento dos funcionários do centro de acolhimento de migrantes de Lampedusa.