Este é o filme que fez a unanimidade, que elevou o orgulho nacional no Brasil por haver, enfim, décadas depois, cinema brasileiro - “um dos melhores filmes brasileiros de sempre” saiu, por exemplo, da boca de Caetano Veloso. També por haver, finalmente, um filme sobre essa classe média que nas cidades brasileiras refugia o medo nas alturas dos arranha-céus, guardada por grades. É brasileiro, afinal, este filme? Nas entrevistas “internacionais” dadas por Kleber Mendonça Filho lá aparece invariavelmente essa questão: supostamente o filme não se conformaria a uma imagem típica. Kleber responde falando nesta claustrofobia da classe média do Recife exposta ao assalto da favela e dos fantasmas do sertão como se fosse a 13ª Esquadra de Carpenter, filiando então O Som ao Redor numa tradição global de fantasmagoria - e porque não o western, com as personagens aterrorizadas pela iminência da chegada dos invasores? É uma coreografia do medo, mas é simultaneamente o desejo de ser violentado, invadido. Isso fica a ressoar muito depois do filme. E por isso pode notar-se que O Som ao Redor está ensopado num património, esse cinema brasileiro que ainda hoje é Novo, colocando-se debaixo de uma cascata que continua a jorrar (sangue), oferecendo-se à invasão.
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