Ex-administrador da Gebalis pagou 38.500 euros a ex-deputado para verificar obras
Alegações finais de julgamento de alegado peculato e falsificação de cheques na empresa municipal Gebalis marcadas para 17 de Dezembro.
Mário Peças, ex-administrador da empresa municipal de gestão dos bairros municipais de Lisboa, Ismael Pimentel, ex-deputado do CDS-PP, e um terceiro arguido estão acusados pelo Ministério Público de peculato e falsificação, num alegado esquema de "falsificação de cheques para se apropriarem de dinheiro da Gebalis".
Hoje, perante o colectivo de juízes da 8.ª Vara Criminal de Lisboa, Mário Peças explicou que, em 2006, quando assumiu funções como administrador executivo e passou a tutelar as obras, se deparou com "situações anómalas" ocorridas entre 2002 e 2004, período em que foram gastos "30 milhões de euros" em obras exteriores nos bairros geridos pela Gebalis.
Por "iniciativa própria" e sem dar conhecimento aos outros elementos do conselho de administração da empresa municipal, o arguido "convidou" Ismael Pimentel, que "atravessava dificuldades financeiras", para que este servisse de fiscal e fosse ao terreno confirmar se as obras que haviam sido facturadas foram realmente executadas. Mário Peças justificou esta atitude, entre outras razões, com o facto de querer "manter o sigilo" da operação, acrescentando que entregou ao ex-deputado facturas relativas a "200 ou 300" obras.
Ismael Pimentel, por seu lado, explicou que, "como não se via num bairro social", tendo em conta a sua fisionomia e a "perigosidade" de alguns locais, mas como "queria ajudar" o ex-administrador da Gebalis na "eficácia" da operação, indicou o arguido Jorge Lopes para ir aos bairros, por se tratar de "uma pessoa da sua total confiança".
O ex-deputado assumiu hoje em tribunal ter recebido "quatro a cinco molhos de facturas", acrescentando que "coordenava" a vistoria e tratava directamente o dossier com Mário Peças, enquanto Jorge Lopes fez "todo o trabalho de campo".
O valor de cerca de 38 mil euros foi "conversado" entre Mário Peças e Ismael Pimentel, tendo em conta os "sete a dez meses de trabalho, as deslocações, a alimentação e o grau de perigosidade" de alguns bairros. Ao fim de três meses, o trabalho terminou, quando o ex-administrador "verificou" que, efectivamente, as principais obras tinham sido mesmo feitas.
Apesar disso, foram emitidos dois cheques pela Gebalis - no valor total de perto de 38.500 euros - em nome de Jorge Lopes que, segundo o ex-deputado, lhe foram entregues pelo próprio, tendo sido depositados numa conta sua. "O Jorge Lopes devolveu-me os cheques e eu depositei-os numa conta minha porque ele me pediu. Depois procedemos a um acerto de contas de umas dívidas e de uns adiantamentos que lhe tinha feito, mas entreguei-lhe perto de 15 mil euros", afirmou Ismael Pimentel. O arguido Jorge Lopes remeteu-se ao silêncio.
As alegações finais deste caso ficaram agendadas para a manhã de 17 de Dezembro na 8.ª Vara Criminal de Lisboa, no Campus da Justiça.
Mário Peças, o ex-presidente da empresa, Francisco Ribeiro, e outra ex-administradora, Clara Costa, respondem noutro processo por peculato e administração danosa por alegado uso indevido dos cartões de crédito da Gebalis, entre 2006 e 2007.