Sobre as memórias

No final, se der tempo para fazer as contas, esse arquivo será suficiente para fazer o balanço e perceber se valeu a pena. Reviver uma última vez tudo o que passou, puxando o filme atrás e vendo toda a história diante dos próprios olhos

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epsos.de/Flickr

Existe um arquivo de tudo o que já passou. Bom e mau. Guardado de uma forma mais ou menos ordenada na cabeça, às vezes também no peito. As pessoas têm a tendência a chamar-lhe memórias, algumas delas descritas em livros perto do final das respectivas vidas. As memórias são a garantia de que existiu uma vida vivida e podem ser percorridas infinitamente, mantendo cada acontecimento bem real.

Algumas memórias doem, são um peso difícil de carregar, outras simplesmente fazem libertar um sorriso bem redutor. Mas pleno de contentamento interior. Chamem-lhe ainda recordações. Empilhadas precisamente no local a que chamamos memória. O pior que pode acontecer é o arquivo baralhar-se ou perder-se a determinada altura da vida. Sem recuperação.

Na memória está a simples bolacha com queijo preparada de uma forma tão peculiar pela avó, entretanto desaparecida. E mesmo assim é como se ainda existisse o sabor na nossa boca sempre que esse acontecimento nos assalta o pensamento. Habita também a última vitória a jogar cartas no derradeiro Natal do avô. Mais nenhum jogo chegará a ser tão perto da perfeição como aquele. Nem qualquer vitória assim tão saborosa. Impossível sequer de se repetir, a não ser na nossa cabeça.

Certo é que bastam pequenos cliques diários para que uma qualquer recordação tenha lugar. Sem razão. Assim como um encontro inesperado, as voltas do destino, trocadas num dado momento. Que fazem pensar e nunca mais deixam de permanecer nas memórias. Recordadas como o exacto local onde afinal todo um caminho viu o seu rumo alterar-se irremediavelmente. Tudo fica registado no arquivo virtual. Que só se perderá algures na passagem.

De memória recordamos as viagens e os sítios visitados, as pessoas conhecidas e todas aquelas que gostaríamos um dia de ter conhecido melhor, sem esquecer cada dia marcante para o percurso percorrido. Desde a decisão que resulta em arrependimento até ao mal que vem por bem.

No final, se der tempo para fazer as contas, esse arquivo será suficiente para fazer o balanço e perceber se valeu a pena. Reviver uma última vez tudo o que passou, puxando o filme atrás e vendo toda a história diante dos próprios olhos. Pelo sim, pelo não, o melhor é guardar todas as memórias. Depois logo se vê.

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