Lembrete: amo-te!

Vários autos são levantados contra o uso do “amo-te”. Por soar assim a uma piroseira pegada, por não sabermos usar uma qualquer outra expressão. Mas o “amo-te” nunca passará a banal. Nunca cairá em desuso

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Michaela Rehle/Reuters

A linguagem do coração é geralmente muito repetitiva. O vocabulário não tem grandes segredos quando se trata de mostrarmos a paixão e o amor que nos invade. Abrir o coração não é fácil, mas, quando acontece, esqueçam a parte de esmiuçar em palavras o que lá vai dentro. Porque a forma de o expressar, a falar e a escrever, não anda longe das repetições de tantos outros casos semelhantes. Repetitiva, embora de significado distinto, dependendo do protagonista.

O coração tem uma linguagem simples, de fácil compreensão, mesmo depois daquele ar parvinho ao pronunciarmos cada palavra. Escrever as palavras do coração torna-se mais fácil porque na maior parte das ocasiões não observamos ou somos observados nas nossas reacções e expressões enquanto o fazemos. Falado ou escrito, o sentimento está presente. Sem segredos. Como as palavras não têm segundas intenções.

Algumas delas poderão começar a ficar gastas, talvez até banalizadas. Podem mesmo surgir algumas queixas de que estamos constantemente a utilizá-las. Chamados de melosos, varridinhos das ideias, porque recorremos à mesma fórmula de demonstrar amor. Vários autos são levantados contra o uso do “amo-te”. Por soar assim a uma piroseira pegada, por não sabermos usar uma qualquer outra expressão. Mas o “amo-te” nunca passará a banal. Nunca cairá em desuso. Jamais será considerado um excesso linguístico.

Em matéria de coração, o melhor é repetir vezes sem conta a mensagem, ao melhor jeito redundante da linguagem publicitária. O que vem do coração é genuíno, único, despertado pelas melhores sensações. Não pode ficar por dizer. E deve ser dito vezes sem conta. Sempre que sentimos o aconchego quentinho da casa onde habitamos e a ebulição bem lá no fundo. Guardar é um lugar sem espaço quando a vida, tal e qual a conhecemos, pode terminar ao virar da esquina. Quando aquele momento pode ser o último.

Em cada oportunidade que o destino conceda, entre um beijo demorado e a tranquilidade de um abraço, devemos aproximar-nos devagarinho do ouvido, dizendo bem baixinho, numa só palavra, tudo o que o coração sente mas não consegue falar. Seja “amo-te” ou todas as demais variantes da linguagem do coração.

Se tivesse a possibilidade de colocar uma imensidão de lembretes em toda a parte, escreveria em cada um deles: “amo-te!”. Para ninguém se esquecer de o dizer sempre que o coração quer sair pela boca, nos momentos únicos de algo tão especial. Por muito que soe a repetitivo, piroso, "démodé".

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