Mortos do Haiyan começaram a ser enterrados em valas comuns
A ajuda humanitária está agora a chegar à costa das Filipinas afectada pelo tufão de sexta-feira.
“São tantos cadáveres. Faz medo. E ainda há tantos por enterrar”, disse Alfred Romualdez, o presidente da câmara de Tacloban, que era a capital da ilha de Leyte, a mais devastada pelo tufão. Na verdade, relatam os jornalistas que lá estão, Tacloban desapareceu, já não se pode dizer que existe.
O enterro de centenas de corpos que estavam há seis dias nas ruas foi na quarta-feira à noite. Um jornalista da AFP esteve no local e citou testemunhas que disseram que o ar está irrespirável e o cheiro insuportável — cheira a podre e a corpos em decomposição.
“Quando há um pedido de uma comunidade para irmos buscar quatro ou cinco corpos, chegamos lá e afinal são 40 ou 50”, disse Romualdez, que tenta resolver o que pode, mas pode pouco.
A antiga cidade é hoje uma área de entulho gigante. As estradas desapareceram, as pontes ficaram destruídas, os veículos que ficaram operacionais são poucos e a maquinaria necessária para abrir caminhos não existe.
Como foi possível que, seis dias depois do desastre natural, os trabalhos básicos e essenciais para socorrer os sobreviventes e enterrar os mortos não tenham começado em larga escala? O Presidente Benigno Aquino está debaixo de fogo desde domingo, quando foi a Leyte e fez as primeiras declarações polémicas — criticou as autoridades locais por não terem agido imediatamente.
Aquino, que é filho de Benigno e Corazón Aquino (a mais popular família política das Filipinas), está ser acusado de insensibilidade e, sobretudo, de continuar de braços cruzados perante a tragédia de Leyte de de outras ilhas varridas pelo tufão. O Governo foi advertido, dias antes do Haiyan chegar, sobre a sua rota e a sua força, mas não accionou um plano de retirada da população, como fez a Índia no mês passado, tirando 800 mil pessoas do caminho do ciclone Phailin. E, quando o furação destruiu cidades inteiras, Aquino não accionou o plano nacional de catástrofes.
Tão-pouco pediu ajuda. A que está a chegar, e que já começou a ser distribuída, apareceu espontaneamente e vem de governos estrangeiros e de organizações não governamentais. Os americanos enviaram navios com alimentos, água, médicos e medicamentos, os ingleses também. Mas perante a inexistência de estradas, os pacotes estão a ser lançados de aviões e helicópteros.
A comida chega e parte de Tacloban, para desespero dos milhares que estão no aeroporto e que vêem os aviões chegar com os sacos de arroz, mas continuam com fome. “Há aqui gente que não come há dias”, disse um funcionário, “e que veio a pé, debaixo de chuva, tentar entrar num avião e sair daqui.”
“Sinto que abandonámos as pessoas. Elas precisam desesperadamente de ajuda e a nossa prioridade tem de ser a distribuição rápida dessa ajuda”, disse a responsável pelas operações humanitárias das Nações Unidas, Valerie Amos, numa visita a Tacloban. “Isto é uma catástrofe. Uma catástrofe completa”, referiu a coordenadora filipina dos Médicos sem Fronteiras, Natasha Reyes, comentando também que não há maneira de chegar a quem precisa.
A inacção ou incapacidade do Governo filipino perante a destruição vai ser cobrada, dizem os analistas. “Ele tem de agir depressa ou isto vai acabar com ele”, disse a The New York Times uma veterana da política filipina, Miriam Defensor Santiago.