Irão culpa França por falhanço no acordo sobre programa nuclear
Ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano recusa acusações do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e diz que a confiança pode ser abalada.
Depois de o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, ter afirmado que só não foi alcançado um acordo porque a delegação iraniana não estava preparada "naquele momento em particular", o ministro Mohammad Javad Zarif recorreu ao Twitter para tornar pública a versão da república islâmica.
"Nenhuma campanha pode alterar o que aconteceu no seio do [grupo] 5+1 em Genebra, entre as 18h de quinta-feira e as 17h45 de sábado", escreveu o responsável, referindo-se ao grupo constituído pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Reino Unido, França, China e Rússia) mais a Alemanha.
Num outro tweet, Mohammad Javad Zarif dirige-se a John Kerry: "Sr. secretário, foi o Irão que esventrou metade da proposta elaborada pelos EUA na quinta-feira à noite? E que fez comentários públicos na sexta-feira de manhã?"
É uma referência evidente ao ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, que na sexta-feira de manhã descreveu publicamente as negociações entre o Grupo 5+1 e o Irão como "um jogo de tolos", de que o Irão sairia sempre vencedor.
Notado foi também o esforço francês para esvaziar as declarações oficiais no final das negociações: no domingo, Laurent Fabius saiu da sala em que o chefe da delegação iraniana – precisamente o ministro Mohammad Javad Zarif – preparava um comunicado em conjunto com a anfitriã, a responsável pela política externa da União Europeia, Catherine Ashton, para anunciar aos jornalistas que não havia acordo.
Ainda no Twitter, o responsável iraniano afirmou que o seu país está "empenhado num compromisso construtivo", mas deixou um aviso: a acusação de que foi o Irão que impediu a obtenção de um acordo pode "abalar a confiança".
Apesar das trocas de acusações dos últimos dias, as negociações vão ser retomadas na quarta-feira da próxima semana e a expectativa geral é que os pormenores do acordo sejam afinados até lá. Em traços gerais, a proposta em cima da mesa permite a suspensão de alguns passos do programa nuclear iraniano em troca do levantamento parcial das sanções aplicadas ao país – tudo isto para que as partes envolvidas tenham tempo suficiente para negociarem uma solução mais concreta e definitiva.