A importância de atribuir um contexto e um valor esperado às escolas
A construção do contexto dos agrupamentos teve por base dois indicadores: a taxa de alunos no escalão A da Acção Social Escolar (ASE) e a média de anos de escolaridade dos pais. Foi ainda possível atribuir um contexto diferenciado para o básico e para o secundário, já que o Ministério da Educação e Ciência (MEC) forneceu os indicadores acima desagregados para estes dois ciclos de estudos. O procedimento para atribuição do contexto foi o seguinte:
– atribuição de um percentil a cada agrupamento no indicador da % de alunos no escalão A da ASE
– atribuição de um percentil a cada agrupamento no indicador educação média dos pais
– cálculo da média dos percentis nos dois indicadores
– atribuição de contextos: contexto 1 para 33,3% dos agrupamentos com menores valores da média dos percentis; contexto 2 para 33,3% agrupamentos seguintes e contexto 3 para 33,3% agrupamentos com valores mais elevados na média dos percentis.
Da aplicação deste procedimento, resultaram perfis diferenciados para cada contexto nas duas variáveis. Assim, em agrupamentos de contexto 1, em média, 23,5% dos alunos têm escalão A da ASE e apresentam pais com uma escolaridade média de cerca de 7,04 anos. Em contrapartida, os agrupamentos no contexto 3 apresentam uma escolaridade média dos pais de 10,88 anos e uma taxa de alunos no escalão A da ASE claramente mais baixa, 7,3% (ver tabela).
No caso do básico, a imagem é similar, especialmente em termos da escolaridade média dos pais em cada contexto. Já quanto à taxa de alunos no escalão A da ASE, verifica-se que no básico as taxas são em média de 31% no contexto mais desfavorecido (1) e de 13,4% no contexto mais favorecido (3).
O que é o VEC?
A partir do contexto definido para o agrupamento, foi possível atribuir a cada escola um contexto. Esta atribuição padece de limitações, a primeira das quais consiste no facto de o contexto ser do agrupamento e não da escola, e a segunda deve-se ao facto de os dados de contexto estarem desfasados um ano dos dados relativos aos resultados em exames.
A atribuição de um contexto a uma escola é importante, pois a literatura em Ciências da Educação revela que factores culturais, educacionais e económicos dos pais são importantes na determinação dos resultados académicos dos alunos. Esta relação a um nível micro (aluno) é transposta para um nível macro (escola) quando dizemos ser expectável que escolas em contextos mais desfavorecidos apresentem resultados académicos mais baixos do que escolas em contextos favorecidos.
Assim, substituímos a média de referência calculada pelo MEC por uma média de referência (calculada da mesma forma) para cada contexto, à qual chamamos “valor esperado do contexto” (VEC). Deste modo, para uma dada disciplina, o VEC é simplesmente o resultado médio obtido por escolas no mesmo contexto a essa disciplina. No quadro ao lado, mostramos os VEC para cada disciplina no 12.º e no 9.º ano, onde representamos também as médias para o conjunto de escolas sem contexto atribuído, o número de exames total realizado a cada disciplina, bem como a percentagem de escolas em cada contexto (e a nível nacional) que realizou exames a cada disciplina (% escolas) no 12.º ano (no 9.º ano, esta percentagem é 100%, já que todas as escolas realizam exames de Português e Matemática).
A tabela relativa ao 12.º ano revela que a maioria das escolas nacionais apresenta resultados aos exames das disciplinas de Português, Matemática, Biologia e Físico-Química (com percentagens de escolas com exame acima dos 95%).
Contudo, as escolas em contexto 1 fazem menos de metade dos exames das escolas em contexto 3 a estas e às restantes disciplinas, pelo que podemos concluir serem as escolas em contexto 3 de maior dimensão, situadas em meios urbanos mais densos e mais desenvolvidos.
Verificamos ainda que, para a maior parte das disciplinas do secundário, as escolas em agrupamentos mais desfavorecidos tendem a apresentar médias mais baixas em exame do que escolas em agrupamentos mais favorecidos. A maior diferença encontrada entre médias verifica-se no caso da disciplina de Geometria, com as escolas no contexto 3 a apresentarem uma média superior às do contexto 1 em 2,31 pontos. Estranhamente, a menor diferença verificada é na disciplina de Português, onde apenas 0,24 pontos separam as médias das escolas em contexto mais favorecido das escolas em contextos mais desfavorecidos – note-se que neste caso o contexto 2 aparece com uma média ligeiramente inferior à do contexto 1. Esta situação é, de resto, idêntica à do ano passado, onde se verificava exactamente a mesma situação: Português apresentava a menor diferença entre as médias dos contextos e Geometria apresentava a maior.
Os factores por trás desta realidade são difíceis de identificar com base nos dados de que dispomos. Podemos referir, contudo, que para a disciplina de Português existem cinco escolas no contexto 1 que apresentam médias superiores a 12 (entre 12 e 12,78 – numa escala de 0 a 20), correspondendo a um total de 437 exames. No contexto mais favorecido (3), existem apenas quatro escolas nesta circunstância com 417 exames no total.
De notar que no caso da Matemática este comportamento não acontece – há 12 escolas em contexto 3 com média superior a 12 (entre 12,11 e 14,78) num total de 841 exames, enquanto no contexto 1 existem apenas duas escolas com média superior a 12 (12,29 e 12,36) e ambas com um número de exames inferior a 50.
No caso do ensino básico, parece existir uma maior uniformidade na dimensão das escolas em cada contexto (o número de exames é semelhante nos contextos 1 e 2 e é um pouco maior nas escolas de agrupamentos no contexto 3, o que sinaliza a sua maior dimensão). Neste caso, os valores esperados das classificações em exame são crescentes com o contexto, sendo a diferença maior entre a média do contexto 3 e a do contexto 1 verificada na Matemática.
Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do Porto
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