Presidente Guebuza convida Dhlakama para um encontro em Maputo

Renamo recusa o que diz ser "doce envenenado" e condiciona encontro com o líder a uma "cessação dos ataques e perseguição" contra o presidente do partido Afonso Dhlakama. Os dois líderes não estão juntos desde a reunião em Nampula, realizada antes de Dhlakama se retirar para a Gorongosa em Outubro do ano passado.

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Armando Guebuza, Presidente de Moçambique AFP/Greg WOOD

Foi em Nampula, antes do líder da Renamo se retirar definitivamente para a sua base na Gorongosa, província de Sofala, recorda o bispo anglicano D. Dinis Sengulane, que é, juntamente com o académico Lourenço do Rosário, facilitador do diálogo entre Governo e Renamo, mas não mediador oficial, antes de reagir à proposta anunciada pelo Presidente Guebuza.

"É um convite muito encorajador", disse o bispo pelo telefone a partir de Maputo, salientando tratar-se da "primeira vez" que uma proposta deste tipo é feita "com data e lugar exacto": sexta-feira, dia 8 de Novembro, na capital, onde a Renamo deixou os seus 50 deputados, apesar do clima de confronto.

A questão da neutralidade do local não se coloca, explica D. Dinis Sengulane, quando questionado sobre o facto de o Sul do país ser predominantemente pró-Frelimo e o Norte ser pró-Renamo. "Não estamos perante dois Estados, mas um Estado. E a Renamo reconhece que temos um chefe de Estado. Então Maputo é a casa de todos", frisou, antes de dizer: "É urgente realizar este encontro."

"Esperamos que todos possam contribuir para que o encontro se realize e produza resultados", acrescentou o bispo moçambicano ressalvando que será "necessário" garantir a "deslocação em segurança" do líder da Renamo. "É uma questão delicada. Mas é muito mais delicado deixarmos as coisas como estão. Se nada fizermos, a situação vai deteriorar-se", salientou referindo ser "preferível olhar para essa problemática" e "criar as condições para a vinda" de Dhlakama para a capital.

"O que se pode esperar numa situação destas, em que as armas estão apontadas uns aos outros, é que a exigência [de Dhlakama] seja a da segurança pessoal e dos seus" e que "os resultados da conversa entre os dois lados" permite garantir essa segurança no futuro.  

Ouvir as preocupações da Renamo
No comunicado distribuído à imprensa em Maputo pelo porta-voz do Presidente, Edson Macuácua, e divulgado pela Lusa e AFP, o encontro servirá para “auscultar as preocupações” da Renamo, no “âmbito dos esforços contínuos empreendidos pelo Governo para a preservação da paz”.

No mesmo texto é dito que o Governo moçambicano “usará os canais apropriados” para tornar possível a reunião mas não explica como será garantida a segurança de Dhlakama, em parte incerta desde 21 de Outubro. Nesse dia, o Exército moçambicano ocupou a base para onde Afonso Dhlakama se tinha retirado no ano passado, em protesto contra o que dizia ser a falta de disponibilidade para o diálogo do Governo da Frelimo, partido liderado pelo Presidente Guebuza.

Nessa tomada da base, houve disparos, e pelo menos uma pessoa acabou por morrer: Armindo Milaco, deputado e chefe nacional da mobilização da Renamo. Desde então, intensificaram-se as acções de grupos armados, também contra civis, nas províncias de Sofala e Nampula atribuídas pelo Governo aos homens da Renamo.

O Presidente Guebuza tem alternado entre um discurso dialogante e as ameaças de acções militares para repor a soberania, se necessário, e de retaliação de "ataques perpetrados" contra si.

No terreno, o Exército ocupou não só bases da Renamo no Norte do país, mas também, na semana passada, sedes do partido no distrito de Marínguè, também na província de Sofala, e em Rapale, Nampula, e a residência de Dhlakama na Beira, em Sofala.

Em situação de "guerra não declarada"
Ao PÚBLICO, na semana passada, Lourenço do Rosário, que também faz a ponte entre as duas partes, frisou a necessidade desta reunião ao mais alto nível para dar uma oportunidade à paz. "Toda a sociedade moçambicana acha que este problema só se resolve com o encontro entre o chefe de Estado Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama. Isto é fundamental", disse numa entrevista em Lisboa.

"Não interessa a tese de que, desaparecendo ele [Dhlakama], ficam resolvidos todos os problemas. Há um discurso mais radical que defende que a solução final seja essa, o que permitiria ou não o processo da ilegalização da Renamo como partido político armado. Não é constitucional, num país que é um Estado de Direito, ter um partido armado. E a Renamo está armada. Esta posição — desarmar a Renamo — é legítima. Mas é preciso saber como desarmá-la. Se através do diálogo, se militarmente", dizia, antes de lembrar a intenção e impossibilidade do líder da Renamo em dialogar.

"Neste momento é refugiado militar, está a fugir de uma operação militar. Não é uma questão de polícia, é uma questão militar. Sendo uma questão militar, é uma situação de guerra, embora não seja declarada."
 
 
 
 
 
 

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