A arte era um trabalho estável até ao início do século XVIII. Cada artista sabia que a sua arte tinha regras, princípios, modelos a seguir, e que os melhores artistas eram aqueles que conseguiam aplicar essas regras da forma mais harmoniosa possível.
Tão consensual era essa ideia que se espalharam pela Europa as Academias de Arte, onde qualquer pessoa podia aprender a fazer boa arte, seguindo escrupulosamente os modelos aceites.
Depois aconteceu o Romantismo, e saber as regras já não era suficiente. O artista já não era aquele que sabia fazer bem, mas era aquele que pela sua personalidade trazia algo de novo ao mundo, algo que inquietava e agitava as multidões. A grande rutura foi com os impressionistas que, recusados das exposições de arte oficiais, fizeram o salão dos rejeitados, onde mostravam a sua arte - uma arte que já não queria o belo e o intemporal, mas sim o subjetivo e efémero: a impressão.
Depois dos impressionistas vieram outros movimentos artísticos — cubismo, surrealismo, minimalismo, expressionismo — cada um deles sempre em busca do novo, do inquietante, do que desestabilizasse a perceção e escandalizasse o público.
Desde então que a arte procura emoções fortes e peças que questionem a nossa ideia do belo. E para isso nada melhor do que um Museu da Má Arte.
Fundado em 1994 em Somerville, nos EUA, mas com a coleção digitalizada online, o Museum Of Bad Art recolhe pinturas e esculturas que considera particularmente atentatórias de tudo aquilo que seja bom gosto ou saber artístico.
E não é nada fácil ter peças expostas neste museu, pois longe de aceitar obras simplesmente mal feitas, banais ou derivativas, o Museu procura acima de tudo obras que sejam malogros completos na tentativa de atingir um novo padrão artístico ou de exibir uma intensidade emocional para a qual o artista não tenha capacidade de expressão.
Obras como "Lucy in the Field with Flowers" (na coluna à esquerda), que retrata uma idosa a dançar num campo florido com o seu corpo flácido entalado numa cadeira, ou "Sunday on the Pot with George", que retrata um homem de meia idade de fraldas, ou "Ferret in a Brothel" que, como o nome indica, retrata uma doninha num bordel, além do estranho cabelo de "Worried Guy", são pinturas horríveis, também inquietantes pelo que têm de honesto e de único. É certo que o museu é em parte anedota, em parte provocação, mas também traduz o reconhecimento de que o grande poder da arte é o de perturbar o mundo confortável onde vivemos e de alargar os horizontes daquilo que achamos possível, do que achamos aceitável, do que achamos belo.
