Escândalo das escutas ilegais no Reino Unido ressurge com o início do julgamento

Rebekah Brooks e Andy Coulson, antigos directores do News of the World, respondem por conspiração para interceptar telefones.

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Rebekah Brooks, em tempos vista como a mulher mais poderosa da imprensa britânica, vai ser julgada REUTERS/Phil Noble

Ao todo são oito os arguidos, mas é em Rebekah Brooks, em tempos vista como a mulher mais poderosa da imprensa britânica, que as atenções estão centradas. Ela, que foi no NoW a mais jovem directora de um jornal de britânico e que se tornou a primeira mulher a chefiar o The Sun antes de Murdoch a levar para direcção da casa-mãe no Reino Unido, vai responder em tribunal pelas escutas realizadas a políticos, celebridades ou de familiares de vítimas.

Terão sido pelo menos 600 os telefones e telemóveis interceptados entre 2000 e 2006, gerando um “fonte” que rendeu manchetes ao tablóide dominical e que só secou quando, em 2007, um artigo sobre a família real levantou suspeitas. O jornalista e o detective que efectuou as escutas foram condenados, mas o jornal insistiu que se tratava de um caso isolado até que, uma investigação do jornal Guardian revelou que aquela era uma prática habitual e instigada pela direcção do NoW – o fecho do jornal aconteceu depois da revelação que escutou mensagens deixadas no telemóvel de Milly Dowler, uma adolescente desaparecida em 2002 e que acabou por ser encontrada morta.

No processo que agora chega a tribunal, o primeiro de quatro resultantes da investigação aberta pela Scotland Yard, Brooks é acusada de conspiração para interceptar telefones, corrupção de funcionários (o pagamento a polícias era outro dos métodos usados para obter “furos”) e obstrução da justiça, crime pelo qual está também acusado o marido, Charlie Brooks.

O casal é amigo de Cameron, que se viu também arrastado para o escândalo por ter contratado para seu chefe de comunicações Andy Coulson, que em 2003 substituiu Brooks na direcção do NoW, e que é acusado de ordenar escutas e subornos de polícias.

De pouco importa que nenhum dos arguidos tenha já funções no grupo Murdoch ou cargos públicos. Dezenas de jornalistas, muitos estrangeiros, acreditaram-se para cobrir o julgamento (que deve arrastar-se até à Primavera), antecipando-se sessões em que serão esmiuçadas tanto as escutas e as tentativas para as omitir, como as falhas da investigação inicial da polícia que, tal como boa parte da classe política, se mostrou durante anos demasiado cúmplice de uma imprensa que não olhou a meios para conseguir notícias.

A sessão desta segunda-feira foi essencialmente dedicada à escolha do júri que vai ditar o desfecho do processo, prevendo-se que só dentro de alguns dias comece o julgamento propriamente dito.

Esquecidas estão já muitas das recomendações do inquérito público lançado no rescaldo do escândalo. Um ano depois do juiz Brian Leveson ter recomendado a criação de uma nova entidade de regulação para a imprensa, as divergências entre partidos e proprietários de jornais ameaça deitar por terra a iniciativa.
 
 

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