Antes da reforma é preciso um trabalho

O diálogo é verídico e aconteceu numa empresa que precisava de preencher um posto de trabalho. A candidata, quando questionada sobre a idade, pensou que a conversa tinha ali um ponto final, tal como acontecera noutros casos.

Vem isto a propósito da iniciativa do ministro do Emprego e Segurança Social. Pedro Mota Soares veio anunciar um novo aumento da idade da reforma, ainda que não se perceba exactamente quais os efeitos no futuro (e sem que haja um verdadeiro debate sobre o assunto). Para o ano que vem, a reforma sem penalização é aos 66 anos, afirmando o ministro que "o sacrifício pedido é que as pessoas trabalhem mais seis meses". Depois, o ministro reconheceu que esta medida afecta os jovens, porque se criam menos oportunidades no mercado de trabalho.

A questão é que ninguém fala dos que têm mais de 50, 55 ou 60 anos, e que, numa altura em que o desemprego está em máximos históricos (e vai demorar muito a descer), perderam o seu emprego. Os últimos dados do INE mostram que é no grupo de quem tem mais de 45 anos que há mais desemprego - atinge 291 mil pessoas, muitas das quais em busca de novas oportunidades há mais de um ano.

Com o fim do subsídio de desemprego (mais curto e com cortes), resta o quê, se a partir de determinada altura cada ano pesa uma tonelada, mesmo quando se é um trabalhador qualificado? O país está a plantar más sementes, e uma delas é a de deixar um enorme vazio, com sérias consequências sociais, entre o momento em que uma pessoa perde o emprego sem grandes esperanças de se manter activo e o momento em que se pode reformar.

A teoria da idade da reforma está desfasada da realidade do mercado de trabalho. O desafio, muitas vezes impossível, não é trabalhar mais anos. É conseguir manter um emprego até à reforma.

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