Morreu Arthur Danto, o inventor do mundo da arte

Entre os mais influentes críticos e teóricos da arte da segunda metade do século XX, Danto morreu aos 89 anos

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Danto publicou no início do ano o seu último livro, "What Art Is" DR

Professor emérito da Columbia University, em Nova Iorque, Danto foi presidente da American Philosophical Association e da American Society for Aesthetics. Esteve entre os 120 académicos e filósofos que em 1973 assinaram o segundo Manifesto Humanista. No princípio do ano publicou a sua última obra, What Art Is, um apanhado do pensamento que foi desenvolvendo ao longo  dos últimos 50 anos do seu percurso.

Nascido em Ann Arbor, no estado de Michigan, em 1924, Danto estudou arte, história e filosofia em universidades americanas, tendo recebido uma bolsa que lhe permitiu prosseguir os seus estudos na Paris do pós-guerra.

Conhecido pelos seus trabalhos nos campos da estética e da filosofia da história, e ainda pela sua inesperada carreira como crítico de arte na revista The Nation, cargo que aceitou quando tinha já 63 anos, Danto interessou-se por vários outros domínios, da filosofia da acção às teorias da representação, e dedicou estudos importantes a filósofos como Hegel, Nietzsche ou Schopenhauer.

Tinha 40 anos quando, em 1964, publicou, no Journal of Philosophy, o ensaio The Artworld, no qual propunha o conceito de "mundo da arte", que definia como o contexto cultural e histórico no qual uma obra de arte é criada. O texto teve uma considerável influência no filosofia da arte, e em particular na teoria institucional da arte, do filósofo George Dickie, que recusa as teorias essencialistas e propõe que um artefacto é uma obra de arte quando o mundo da arte e as suas instituições lhe atribuem esse estatuto.

 

O fim da arte

A partir de meados dos anos 1980, o tópico do "fim da arte" torna-se central na obra de Danto. Não se trata de vaticinar o esgotamento da criação artística, mas, antes, o final de uma certa história da arte ocidental. Em After the End of Art (1997), afirma que a arte começou com "uma era de imitação, seguida de uma era de ideologia, seguida pela nossa era pós-histórica", na qual a obra de arte já não enfrenta "quaisquer constrangimentos estilísticos ou filosóficos".

Danto não pretende afirmar que já não se faz arte ou que a que se faz não é relevante. Defende é que as grandes rupturas conceptuais iniciadas nos anos 60 do século XX – com a arte pop, o minimalismo, o conceptualismo – levaram a uma situação em que "as obras de arte podem parecer seja o que for, incluindo objectos perfeitamente triviais". Nesta situação de liberdade criativa total, o papel do artista, diz Danto, "é filosofar através de meios visuais, usando todos os recursos que lhe pareçam adequados". Do mesmo modo, o crítico deve lançar mão de "tudo o que o possa ajudar a atingir uma interpretação inteligível" do que o artista pretendeu fazer.

Este "fim da arte", reconhece Danto, foi admiravelmente intuído pelo filósofo Theodor W. Adorno, que escreveu: "É uma evidência que nada do que respeita à arte é ainda hoje evidente, nem a sua vida interior, nem mesmo o seu direito a existir". Mesmo sabendo que, em Adorno, esta constatação é "um grito de desespero cultural", Danto credita-lhe "o mérito de ter intuído as transformações" a que ele próprio depois chamará "o fim da arte".

 

  
 
 
 
 
 
 

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