800 pessoas resgatadas no Mediterrâneo numa única noite

Operações da Marinha italiana coincidem com debate sobre o problema na cimeira europeia.

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Entre as pessoas resgatadas há dezenas de crianças AFP/Guardia Costiera

Segundo a edição online do jornal La Repubblica, dois dos navios da Marinha italiana que participam na operação Mare Nostrum – lançada na semana passada por Roma para evitar novos naufrágios trágicos – resgataram 400 pessoas durante a noite de quinta para sexta-feira no canal que separa a Sicília das costas da Tunísia. Outras 250, incluindo dezenas de mulheres e crianças, foram acolhidas a bordo de duas vedetas da Guarda Costeira que foram ao encontro de um barco em dificuldades a 25 milhas da ilha de Lampedusa.

A Guarda Costeira resgatou ainda 95 eritreus que viajavam numa embarcação detectada a mais de cem milhas a sudeste da pequena ilha italiana e um navio mercante com bandeira do Panamá recebeu ordens para desviar a sua rota e resgatar 80 imigrantes de um barco em dificuldades numa zona próxima.

O diário italiano adianta que parte dos resgatados foram levadas para Lampedusa, mas as autoridades decidiram levar de imediato algumas centenas para outros destinos – uma decisão que tende a ser tomada cada vez com mais frequência devido à sobrelotação dos centros de acolhimentos na pequena ilha.

O La Reppublica dá conta da enorme tensão que se vive ali há várias semanas e adianta que a situação tende a piorar, quer por causa do fluxo constante de recém-chegadas quer por causa dos procedimentos “absolutamente inadequados” de resposta aos pedidos de asilo. Exemplo disso é o facto de continuarem na ilha, alojados em condições precárias, os 157 sobreviventes do naufrágio de 3 de Outubro, apesar de quase todos terem perdido familiares ou amigos na tragédia, a pior de que há registo com 339 mortos confirmados.

A notícia dos salvamentos sublinha a urgência de uma resposta da União Europeia ao apelo lançado por Itália, com o apoio dos países do Sul, para a partilha de responsabilidades no combate à imigração ilegal e no acolhimento dos refugiados (uma parcela cada vez maior dos que arriscam a vida na travessia do Mediterrâneo).


Reformas encalham nos corredores de Bruxelas
Na cimeira que decorreu em Bruxelas, os líderes europeus comprometeram-se a prevenir novas tragédias no Mediterrâneo, numa acção que terá três frentes, de acordo com a AFP. A "prevenção" de desastres como o ocorrido em Lampedusa no início do mês, a "protecção" fronteiriça e a "solidariedade" para com os países de origem dos refugiados e com os países por onde transitam.

"Lutamos para impor o tema das migrações e para que as conclusões prevejam um conteúdo operacional", explicou o primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, no final da cimeira. As propostas "são satisfatórias, já que incorporam o conceito de solidariedade", sublinhou Letta.

No entanto, será preciso esperar até Dezembro para que apareçam respostas concretas que permitam reforçar os instrumentos à disposição da UE para o controlo das fronteiras exteriores, o Frontex e o Eurosur. A melhoria da operacionalização destes programas "será crucial para ajudar na detecção de barcos e de entradas ilegais", de acordo com o documento final do Conselho.

Há ainda que aguardar até às eleições europeias de Maio, para que o novo Parlamento Europeu possa debater as reformas da política migratória da UE, em particular o direito de asilo, assunto que divide os países do Norte e do Sul. Qualquer reforma vai encontrar obstáculos, uma vez que 24 dos 28 Estados-membros rejeitam modificar as suas políticas de asilo.

Notícia actualizada às 17:27 - Acrescentaram-se as conclusões da cimeira do Conselho Europeu.

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