Moreira da Silva diz que todos os ministros devem ler relatório do IPCC

Governante afirma que documento agora divulgado deveria ser "inspirador" de uma nova liderança europeia na área climática.

Foto
Moreira da Silva trabalhou na ONU como director no quadro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento durante três anos Pedro Cunha

“Este relatório é publicado num momento decisivo”, afirma Moreira da Silva. Em Novembro, a comunidade internacional reúne-se em Varsóvia, Polónia, para uma conferência climática das Nações Unidas, em mais um elo para que se chegue a um novo tratado, até ao final de 2015, que substitua o Protocolo de Quioto.

Além disso, a própria União Europeia está a discutir neste momento a sua nova estratégia de médio prazo, para 2030, na área das emissões de carbono, da eficiência energética e das energias renováveis.

“É importante recordar que foi precisamente depois do último relatório do IPCC [em 2007] que a União Europeia partiu para uma política integrada para o clima e energia”, diz Moreira da Silva. O resultado foram as metas 20-20-20 – 20% de redução de emissões, 20% de energias renováveis e 20% a menos no consumo eléctrico por via da eficiência energética até 2020. Segundo o ministro, o relatório agora divulgado deveria ser “inspirador” de uma nova liderança da UE nesta área.

A síntese apresentada esta sexta-feira pelo IPCC diz que o aquecimento da Terra é “inequívoco” e que o maior responsável são as actividades humanas. O termómetro global continuará a subir, assim como o nível do mar, provocando alterações profundas no sistema climático.

“Este relatório é destinado a toda a sociedade, a todos os governos e, dentro dos governos, a todos os seus membros, e não apenas aos ministros do Ambiente”, refere Jorge Moreira da Silva. Questionado pelo PÚBLICO se levaria as conclusões do IPCC ao próximo Conselho de Ministros, Moreira da Silva respondeu: “O Governo tem um compromisso firme com as metas para as emissões de CO2, para eficiência energética e para as renováveis.”

A junção do ambiente e da energia num mesmo ministério foi uma medida neste sentido, assegura o ministro. “A crise económica não deve servir de desculpa para adiarmos ou hesitarmos no combate às alterações climáticas”, acrescenta.

O ministro reconhece que este quinto relatório de avaliação do IPCC não traz grandes novidades estruturais, mas afirma que tem a grande vantagem de consolidar o quarto relatório, que há sete anos concluiu que a responsabilidade do aquecimento global recente é humana.

Além disso, o documento reafirma a solidez científica do IPCC, depois da crise de confiança por que esta organização tem passado. “É indispensável que o IPCC continue a publicar relatórios como este, da forma como são publicados”, entende Moreira da Silva, referindo o facto de aquela organização funcionar em moldes específicos, com base numa vasta rede de cientistas e sem o peso de outras estruturas das Nações Unidas. “As críticas ao IPCC resultam da própria qualidade que o IPCC tem”, diz. "Se não existissem, o IPCC teria menos problemas, mas daria menos garantias de qualidade”, conclui.
 
 

Sugerir correcção
Comentar