Estágios e estagiários
Não me desiludi. Fui estagiária durante 3 meses. Passei por (quase) todos os grupos de trabalho, trabalhei muito, dormi pouco, investi tudo e aprendi tanto que no final houve possibilidade de prolongamento e aceitei. Na prática foi mais um mês de aprendizagem. Depois, na redacção da TVI tive um mês e meio, nem mais um dia, para mostrar do que era capaz. Entrava às 9h e saía às 20h quase todos os dias. Tive a sorte de o meu trabalho ser reconhecido e voltei, nove meses depois.
O lugar de estagiário já não é um lugar normal. Já não o era "no meu tempo". Porque a sociedade mudou, a oportunidade de entrar numa empresa e mostrar trabalho é hoje mais rara e, por isso, tem mais valor. O novo desafio é que o trabalho se diferencie sem ser demasiado fora do contexto, mas suficientemente criativo ao ponto de marcar a diferença. O estagiário de hoje tem de ter visão prática, fazer a diferença e mostrar aos responsáveis de cada empresa por onde passa, por que é uma mais-valia, po rque é que não pode ir embora, por que é que a empresa vai ficar mais pobre e menos competitiva sem o seu contributo. Nesse aspecto, sim, os estágios podem ser uma grande porta de entrada.
Foi com preocupação que li a notícia sobre o estagiário do Bank of America, encontrado morto depois de trabalhar 72 horas seguidas. Um jovem “muito promissor” mas assumidamente “competitivo e de natureza ambiciosa”. O problema é quando a ambição passa o limite. E a linha é ténue. Justificava-se? Ninguém sabe porque este jovem provavelmente não teve acompanhamento como não o têm grande parte dos estagiários portugueses - e esse é um dos erros mais graves das nossas redacções. E é tão difícil vingar no mundo do trabalho que parece valer (quase) tudo.
Todos fomos estagiários, um dia. Todos alcançámos o lugar que temos porque, um dia, alguém viu o nosso trabalho, acreditou em nós e nos deu oportunidade. A frase é batida mas é verdadeira: "Isto está mau e vai continuar". Não vou dizer que “já é uma sorte arranjar um estágio” porque não acredito mesmo que seja assim tão linear. Acredito, isso sim, que é possível cada um fazer mais por si. Não desistir. Não perder a vontade. Apostar na formação e crescer e querer saber mais. Eu acredito que se pode vencer, mesmo em alturas de crise. Se eu consegui…
Sei que já não existe esperança mas a culpa não é de quem a perdeu… é de quem deixou que isso acontecesse. Todos nós.
Patrícia Matos é jornalista da TVI