“O pior que o meu sucessor vai ter à sua frente é a obstrução do Governo à reabilitação urbana”

Rui Rio interveio pela última vez na Assembleia Municipal do Porto como presidente da câmara. Nem queria falar, mas acabou por deixar recados.

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Rui Rio Nuno Alexandre Mendes

Não foi fácil pôr Rui Rio a falar. A reunião de segunda-feira deveria ter ocorrido já na semana passada, mas foi adiada, pelo facto de o autarca não poder estar presente na altura, permitindo-lhe, assim, participar na “apreciação da informação do sr. presidente da câmara acerca da actividade do município, bem como da situação financeira do mesmo”, que constava da agenda.

Um ponto que se repete, a cada trimestre, e que é sempre motivo de debate entre as várias bancadas e o autarca, depois de este fazer uma exposição inicial. Na segunda-feira, com a sessão da AM a decorrer em período eleitoral e com sete pontos na agenda, o autarca optou por abdicar dessa exposição inicial, colocando-se à disposição dos deputados para responder a perguntas ou comentários que estes efectuassem. Uma forma de poupar tempo, já que, disse Rio, o que iria dizer era “inútil” por já ser do conhecimento dos deputados.

Eram 22h36 quando Rui Rio assumiu essa postura e, vinte minutos depois, perante o protesto da CDU, do Bloco de Esquerda e também de deputado Tiago Barbosa Ribeiro, do PS, o autarca continuava a dizer que estava disponível para falar, mas que achava que isso seria uma perda de tempo, e que seria mais útil responder apenas a perguntas ou comentários.

As bancadas pediram cinco minutos de intervalo para discutir a questão, no final dos quais, Artur Ribeiro, da CDU, declarou que o partido abandonaria a sessão, se o autarca não prestasse, como é hábito, os esclarecimentos devidos aos deputados. André Noronha, do CDS, e Gustavo Pimenta, do PS, pediram, então, a Rio que fizesse a habitual intervenção, para que todos os partidos continuassem na sala e a reunião pudesse continuar.

Quarenta minutos depois de iniciado o impasse, Rui Rio, sem gravata, falou, durante outros 45 minutos, sobre os seus mandatos, salientando as contas da autarquia – com a diminuição do passivo, do número de funcionários e do valor pago em horas extraordinárias -, deixou o aviso ao seu sucessor sobre os problemas da reabilitação urbana e admitiu que as duas obras que deixa por fazer e que mais lhe custam é a reabilitação do Mercado do Bolhão e a transformação do Pavilhão Rosa Mota/Palácio de Cristal num centro de congressos.

Em fim de mandato, Rio disse ainda que se tivesse mais quatro anos à frente da Câmara do Porto e pudesse pôr em marcha estas duas obras, a prioritária seria o Palácio. “Se eu aqui ficasse o meu primeiro esforço seria para o Palácio. Seria politicamente correcto dizer que era o Bolhão, mas não é. A procura por um centro de congressos é muito mais importante para a cidade”, disse.

O autarca confessou ainda a mágoa pelo valor que teve de pagar para adquirir todos os terrenos do Parque da Cidade, sem direito a construção. “Das coisas que mais me custa é esse esforço do Parque da Cidade e injusto para os contribuintes, nessa passagem de dinheiro para os promotores. Mas não há nada a fazer, há que cumprir”, disse.

Elogiado por Paulo Rios, do PSD, e por André Noronha e Pedro Moutinho, do CDS, Rui Rio ouviu críticas de toda a esquerda, pela boca de Gustavo Pimenta, do PS, de José Castro, do Bloco de Esquerda, e de Artur Ribeiro, da CDU, que lhe disse mesmo: “O senhor fez uma gestão miserável do Porto”.
 

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