Como é que o futuro nos assalta? Desde o rebentar da crise global que nos empurrou, enquanto país, para um poço, para um túnel, para um buraco, ou para qualquer outra metáfora que caracterize o nosso estado, que vivemos numa certa ambivalência em relação ao futuro. Entre a esperança e a incerteza se têm passado os dias, os meses, os anos.
Portanto, quando pensamos onde é que estaremos em 2015, a resposta mais adequada neste momento é “não sei”. E o “não sei” aplica-se transversalmente a todas as gerações.
Não sei se já batemos no fundo ou se ainda teremos de escavar mais (Cenas do próximo capítulo no Orçamento de Estado para 2014) quando pensávamos que tal não era possível.
Não sei se, depois de concluir a licenciatura em que acabo de entrar, vou conseguir arranjar trabalho.
Não sei se, antes de começar a trabalhar e a poder sustentar-me não vou ter de embarcar numa série de estágios profissionais, que pouco têm de estágio porque se vai completar uma necessidade que é permanente da empresa mas que é suprida por pessoas diferentes de três em três meses, ou que pouco têm de profissionais, porque se vai fazer tarefas indesejadas por outros e que não têm a ver com aquilo para o qual se queimou pestanas durante os anos de faculdade ou de formação.
Não sei se vou conseguir sair de casa dos meus pais antes dos 30. Não sei se não vou ter de aceitar qualquer coisa que apareça, seja porque não há trabalho na área, seja porque me recuso a ser mão-de-obra quase escrava.
Não sei se vou conseguir ter filhos, porque não tenho suporte familiar, e a conciliação entre a vida familiar e profissional não acontece – Não há creches nem jardins-de-infância suficientes para planear uma vida.
Não sei como vou fazer, se depois de uma vida a planear a velhice com base no cumprimento da lei e do contrato social com o Estado, me têm retirado, ano após ano uma parcela dos meus rendimentos.
Não sei se continuará a ser o povo responsabilizado por um estado de coisas que tem outras origens e responsabilidades. Não sei se essas responsabilidades serão apuradas.
Não sei se nos continuarão a tentar inculcar o aviltante entendimento de que os nossos salários têm de baixar (num país em que mais de 2 milhões de pessoas são pobres, e em que o salário mínimo é 3 vezes menor do que o salário mínimo irlandês).
Não sei se vou conseguir regressar ao meu país, depois destes anos de saudades emigrado.
Não sei, enfim, valendo por todos, se os sacrifícios impostos ao povo (Impostos, escola pública, saúde, desemprego) vão surtir algum efeito.
Com todos estes “não sei”, tenderíamos a dizer que devíamos era fazer as malas, embalar a trouxa e zarpar. No entanto, também nos caracteriza o nosso amor por este jardim à beira mar plantado, a nossa ideia de que podemos chegar mais longe, mais alto e mais forte. Esperamos que a candeia dentro da própria desgraça nos possa guiar para a saída do túnel (afinal era só uma vela).
Temos esperança que a Europa se recentre naquilo que é fundamental. Temos esperança que a União Europeia volte a saber o que é a solidariedade e o apoio mútuo para o progresso de todos. Temos esperança que haja líderes capazes de liderar, e não apenas de cumprir um papel que lhes permita a reeleição. Temos esperança que haja a noção de que a convergência se faz potenciando as capacidades de cada país, com a noção de que foi a luta pela dignidade, pela paz, pela justiça que construiu esta ideia de Europa, e não os nacionalismos radicais, que causaram exactamente o oposto. (já estivemos mais longe…)
Temos esperança de que em 2015 o caminho esteja traçado para podermos olhar para o futuro com confiança de que as aspirações das pessoas serão cumpridas, e que a ideia de uma sociedade justa, solidária e livre perdura. Que as liberdades individuais não serão postas em causa. Que as eleições de 2014 tenham sido utilizadas para um debate sério sobre o estado da União, em vez do mote de que a política europeia “é muito complexa” para que se possa iluminar o povão sobre o assunto.
Temos esperança que em 2015 se olhe muito bem para os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio que havia para cumprir até esse ano, e perceber porque é que se falhou naqueles que não foram atingidos.
O caminho para 2015 não se afigura fácil. Mas sem esperança, vontade e empenho para mudarmos, nenhum futuro seria bom. Lutemos, então, começando na nossa rua, para criar um mundo melhor. Lancemos também as canções no vento que passa.