Escrevi um livro. Sim, desses à séria. Eu bem lhes dizia que não era capaz, mas insistiram e lá fui andando, página a página, aos poucos e poucos, aproveitando os dias de desempregado em que me tinham metido, à força. Quando dei por mim, tinha acabado uma história, com pés e cabeça. Depois de atirar uma ginja goela abaixo e tomar coragem, dei-a a ler às pessoas mais importantes, pouco depois de lhe espetar com um título naïve na capa: "Um Dia Não São Dias". Sem grandes expectativas.
Irrequietos como sempre, tornaram a incitar-me à acção. Que estava bom, diziam, que deveria ser publicado. De empurrão, lá enviei um e-mail a uma editora. Relativamente nervoso com a resposta, lutei para esquecer que o tinha feito. Mas – malvados! – responderam-me. Que sim, que queriam publicar. Olha que isto!
Entusiasmo, euforia e… dúvidas. E agora? Serei escritor? Sê-lo-ei, só por saber encadear meia dúzia de frases que cabem dentro de um molhe de folhas? Não consigo pensar em mim dessa forma, dá-me comichões. Raios. E agora? Um livro, a sério? Com o meu nome na capa e tudo? Caneco.
Assoberbei-me com tal evento, mas fui andando, relativizando. Ao ritmo das folhas do calendário, o tempo foi passando. Receberam-se as provas do afamado compêndio e da adjacente capa. Sim senhora, bonito isto. Siga!
Prepara-se a apresentação – tens de arranjar um convidado, Nelson! Só me faltava esta. Quem quererá falar de um livro de um caramelo qualquer? Felizmente, rodeio-me de gente impecável e carinhosa. Um colossal obrigado ao Fernando Ribeiro (esse mesmo, o dos Moonspell), que aceitou generosamente apresentar o primogénito da minha obra literária. E fê-lo de forma brilhante, devo dizê-lo!
Agora dou por mim a pensar à escritor, armado ao pingarelho. Deves achar-te, tu. Os amigos entusiasmam-se, eu acagaço-me. Caneta nova em punho, umas notas aqui e ali num moleskine estreado há dias e começo a treinar autógrafos, antes de pensar: quanta sobranceria, rapaz! Estarás doido?
Já está cá fora, impresso. Vê-lo nos escaparates de uma Fnac ou de uma Bertrand far-me-á corar até à raiz dos cabelos, como se os transeuntes soubessem que aquele pedaço de coisa que já foi árvore foi ali posto à minha responsabilidade. Responsabilidade de o assumir e de o continuar, noutras obras – que, aliás, estão já a ser escritas.
Serei já escritor? Continua a ser uma dúvida que me assalta, a cada dia. Não me consigo equiparar – ou sequer comparar – aos mestres. Até lá, vou tentando. Vomito em palavras os pensamentos que me assaltam e as ideias que me nascem. Sempre com um sincero obrigado aos que me lêem, aos que gostam e aos que não gostam. Porque, afinal de contas, acredito na dedicatória que escrevo a todos os que decidem passar os olhos pelas minhas palavras: este texto, tal como o meu livro, existe por tua causa. Agora vá, ide lá gastar onze euros.