Assad desmente uso de armas químicas e avisa EUA
Presidente sírio deu entrevista a jornal russo. Moscovo pede a Washington que resista a intervenção militar. Turquia diz-se preparada para integrar coligação. Inspectores estarão hoje nos bairros bombardeados.
"O fracasso espera os EUA, como em todas guerras anteriores que desencadearam, a começar pelo Vietname", argumentou Bashar Al-Assad, numa entrevista publicada nesta segunda-feira pelo jornal russo Izvestia, considerado um jornal próximo do Kremlin, que tem sido um aliado de Assad.
Contestado há mais de dois anos – o país caiu entretanto numa guerra civil que já custou a vida a mais de 100 mil pessoas, segundo números da ONU –, Assad respondia assim à pergunta sobre o que aconteceria se os EUA decidissem atacar o regime sírio, depois dos bombardeamentos da semana passada, que segundo os rebeldes sírios mataram 1360 pessoas, em bairros nos arredores da capital, controlados por esses rebeldes.
Assad sustenta que esses ataques são responsabilidade dos próprios rebeldes, até porque nessas zonas havia forças leais ao regime. "Algum Estado usaria armas químicas ou qualquer tipo de armas de destruição maciça num local onde as suas próprias forças estão concentradas? Isso iria contra qualquer lógica", garante o Presidente, que enfrenta uma possível intervenção militar externa. Esse cenário está pelo menos em cima da mesa desde o fim de semana, altura em que o Presidente americano, Barack Obama, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, ameaçaram dar, após um telefonema de 40 minutos no sábado, uma "resposta grave" aos últimos acontecimentos.
Também ao telefone, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, falou na última noite com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, que alertou Washington para os riscos de uma intervenção. A Turquia, vizinha da Síria e um dos mais inconformados com o arrastar do conflito, diz-se preparada para integrar uma coligação internacional, ao passo que a França declarou nesta manhã que nenhuma decisão está tomada. Isto depois de Obama e o Presidente francês, François Hollande, terem conferenciado sobre eventuais medidas.
"O ministro (Lavrov) frisou que o recente anúncio oficial de Washington, acerca da preparação das forças norte-americanas para intervir de imediato no conflito sírio, foi recebido em Moscovo com grande preocupação", lê-se num comunicado emitido após o telefonema entre Kerry e Lavrov.
Os peritos da ONU estão a caminho, nesta segunda-feira de manhã, rumo às zonas onde foram fotografados centenas de cadáveres, incluindo mulheres e crianças, que dão força à acusação de que terão sido usadas armas químicas contra civis.
O regime sírio autorizou os inspectores das Nações Unidas, segundo um anúncio feito no domingo, depois de fortes pressões, tanto dos países ocidentais como dos aliados de Assad. Porém, pouco depois, um responsável da Administração americana, citado por diferentes agências internacionais, disse que a autorização chega "tarde de mais para ser credível". O mesmo responsável afirmou que Washington "há muito poucas dúvidas de que armas químicas foram usadas pelo regime".
A mesma ideia foi destacada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros britânico que disse ser possível que as provas dos ataques já tenham sido destruídas. Sobre uma resposta armada sem o apoio unânime do Conselho de Segurança da ONU, onde China e Rússia têm bloqueado medidas mais duras contra Damasco, William Hague admitiu esse cenário: "É possível responder a armas químicas sem uma total união no Conselho de Segurança? Eu argumentaria que sim, caso contrário seria impossível responder a crimes tão hediondos, que são inaceitáveis".