O Sapal morreu após ter sido agredido por outros golfinhos do grupo
O roaz recém-nascido, encontrado morto na semana passada, tinha várias lesões internas, concluiu a necrópsia.
Avistado pela primeira vez a 7 de Agosto, o Sapal era o mais jovem elemento da população de roazes residentes no Sado, que tem 27 golfinhos. Foi encontrado morto no dia 16, com a mãe, baptizada de Ligeiro, a tentar mantê-lo à superfície, para o ajudar a respirar. Mas já nada podia fazer.
Os técnicos do ICNF recolheram o corpo para necrópsia e encontraram múltiplas lesões internas “relacionadas com agressão violenta”, diz o instituto em comunicado. O golfinho tinha uma costela fracturada e várias hemorragias internas em diversos órgãos, incluindo na base do crânio, congestão da espinal medula e cerebelo.
O ICNF lembra que no dia anterior à detecção da cria morta foi alertado por uma das empresas de observação de cetáceos para um “comportamento estranho” de três roazes jovens com o Sapal. Dois machos de sete anos (o Cocas e o Tongas) e o irmão do Sapal (o Moisés, com seis anos), “empurravam” a cria para a superfície, fazendo algo semelhante ao que os adultos, sobretudo as fêmeas, fazem quando as crias estão em dificuldades.
“Na altura o comportamento, apesar de estranho e de nunca ter sido observado na população do Sado, foi interpretado como podendo ser um comportamento lúdico (brincadeira), tanto mais que quando a cria era observada a nadar e a respirar sozinha junto da progenitora e de outros adultos aparentava um comportamento normal”, afirma o instituto.
A agressão entre cetáceos da mesma espécie está documentada mas nunca tinha sido detectada na população de roazes residentes no Sado. O infanticídio pode, refere o ICNF, ser uma forma de induzir as fêmeas que estão a amamentar – como era o caso da Ligeiro – a entrarem novamente em cio. Mas também pode ser um comportamento lúdico, uma perturbação social ou simplesmente um caso de agressão pelo facto de as crias serem mais pequenas e indefesas.
Falta fiscalização
Não é a primeira vez que morre uma cria no estuário do Sado, onde se encontra a única população de golfinhos residente em Portugal e uma das poucas existentes na Europa. Mas cada caso é visto com preocupação por quem acompanha e chama pelo nome os roazes-corvineiros [Tursiops truncatus].
Durante o Verão não faltam barcos no estuário à procura dos golfinhos. Às embarcações com licença marítimo-turística somam-se os barcos de recreio de particulares. E nem sempre se respeitam as normas do regulamento: por exemplo, manter uma distância de 30 metros em relação ao grupo de golfinhos mais próximo, não ficar mais do que 30 minutos junto aos animais e não exceder a sua velocidade de deslocação. Há também quem se queixe da falta de fiscalização por parte das autoridades marítimas.
Quando deu a notícia do nascimento do Sapal, o ICNF lembrava que as primeiras semanas são cruciais para a sobrevivência dos golfinhos, pelo que “não é desejável que um grande número de embarcações permaneça nas proximidades do grupo”. Pedia ainda que as observações de cetáceos, uma das actividades que mais atrai os turistas ao Sado, na região de Setúbal, fossem dirigidas a outros roazes nos próximos tempos.
Agora, o INCF alerta mais uma vez os utilizadores do estuário para a necessidade de cumprirem o código de conduta de observação de cetáceos.