Este filme enganou-se

O site IMDB tem secções para os erros detectados em cada filme e existem páginas e fóruns especializados em encontrar gralhas nos filmes, páginas com listas de erros, sítios que explicam como detectar erros

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As editoras afogam-se em cartas a denunciar gralhas nos livros, os "bugs" dos videojogos levantam labaredas nos fóruns online, mas nenhuma outra arte gera o mesmo tipo de caça obsessiva ao erro que o cinema.

O site IMDB tem secções para os erros detectados em cada filme — erros factuais, erros de enredo, erros de continuidade, erros de coerência, erros de filmagem ou simples inverosimilhanças — e existem páginas e fóruns especializados em encontrar gralhas nos filmes, páginas com listas de erros, sítios que explicam como detectar erros, "tops" dos erros mais óbvios e "tops" dos filmes com mais erros.

Curiosamente, estas últimas listas são sempre encabeçadas por filmes de grande popularidade, como "Guerra das Estrelas", "Homem-aranha", "Harry Potter" ou "Titanic", e clássicos como "Apocalipse Now" ou "O Feiticeiro de Oz". Tal pode indicar que estes filmes estão mais sujeitos a erros, ou, o que é mais provável, que há mais olhos interessados em descobrir neles esses erros. Até porque, ao contrário das gralhas dos livros ou dos "bugs" dos videojogos, tais falhas raramente prejudicam o usufruto do filme e quase sempre passam despercebidas à maioria dos olhos, sendo antes laboriosamente procuradas por um grupo restrito e insistente de espectadores.

Jon Sandys, um desses espectadores, que vive de descobrir erros nos filmes, admite que para ele o trabalho é também motivo de orgulho e de triunfo, por lhe permitir encontrar imperfeições nas obras que seduziram tantos olhos. Pois se errar é humano, é bem provável que detectar esses erros seja o mais perto da divindade que muitos de nós podem almejar.

Todavia, sendo óbvio que todos esses erros não colocam em causa a popularidade ou o reconhecimento dos mesmos filmes, talvez haja outra razão para tanto empenho na descoberta das falhas: perante a dimensão e poder das imagens do cinema, que se instalam no nosso imaginário e nos mostram uma realidade mais intensa e cativante do que aquela que nos rodeia, descobrir que esses filmes são falíveis, incompletos, rugosos, artificiais, torna-os de alguma forma menos poderosos, menos remotos, mais compreensíveis, mais aceitáveis e mais humanos.

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