Depois de um livro e de um documentário, um filme de (não-)ficção: Um Homem de Família é a terceira “iteração” para a história verídica de Richard Kuklinski, durante vinte anos assassino contratado a soldo da Mafia de New Jersey sem que a família, convencida de ele ser consultor financeiro, suspeitasse da verdade. É uma história feita à medida para o cinema, e para um actor que lhe queira ferrar os dentes. O israelita Ariel Vromen não consegue fazer o filme, caindo numa espécie de Tudo Bons Rapazes de trazer por casa que se refugia em demasia no lugar-comum da saga de gangsters (que, assim como assim, já não pode ser a mesma depois de Scorsese e dos Sopranos).
Mas, pelo menos, acertou no actor: Michael Shannon chama um figo ao laconismo gélido de Kuklinski, consegue sugerir com a mera intensidade da sua presença as montanhas de dor e dúvida que vão por dentro de um homem que passou a vida a esconder-se, empresta sozinho ao filme a densidade que Vromen não consegue dar. E quase apostamos que foi a sua presença que atraiu ao filme um bom elenco de secundários desperdiçado em papéis quase inexistentes (James Franco, John Ventimiglia, Robert Davi, Stephen Dorff). Não chega para fazer de Um Homem de Família o filme que o actor mereceria, mas chega para merecer a vista de olhos.