Poesia de Ruy Belo no Brasil pela primeira vez (e um encontro com Chico)

Já começou a chegar às livrarias brasileiras a colecção que reúne toda a bibliografia do poeta português, um dos maiores da segunda metade do século XX. E até ao fim do ano estreia um documentário.

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Ruy Belo escreveu toda a obra a editar agora no Brasil nas décadas de 1960 e 70

Belo interessava-se muito por nomes da literatura brasileira como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, mas Chico Buarque era Chico Buarque. “Ficava muito comovido com as canções e admirava a postura política dele”, lembra Teresa Belo.

Agora, o cantor e compositor, um dos mais populares da música brasileira, é um dos convidados de um documentário sobre o poeta português que será lançado no Brasil até ao fim do ano. Vai ler dois dos seus poemas, Orla marítima e Oh as casas as casas as casas. O documentário Ruy Belo, era uma vez, de Nuno Costa Santos, reúne críticos e escritores dos dois lados do Atlântico à volta deste homem que sempre cruzou a poesia com a política ou a espiritualidade e que viria a morrer em 1978, aos 45 anos, deixando versos como estes: “É triste ir pela vida como quem/ regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro”.

Segundo o jornal brasileiro, o documentário de Costa Santos, faz parte de uma espécie de “operação Ruy Belo”, destinada a dar a conhecer ao público brasileiro um autor fundamental da poesia portuguesa da segunda metade do século XX, a que chamam com frequência “poesia pós-Pessoa”. Dessa “operação” faz parte a primeira edição brasileira de toda a bibliografia do poeta, 35 anos depois da sua morte.

Nas estantes das livrarias brasileiras os seus novos leitores já podem encontrar Aquele Grande Rio Eufrates (1961), título de estreia, e os dois seguintes - O Problema da Habitação (1962) e Boca Bilíngue (1966). Mas até ao fim do ano a editora 7Letras promete pôr à venda os seis volumes que faltam para completar a integral do autor de A Margem da Alegria (1974), o homem que traduziu Borges e Lorca e que amava o mar. “Amei a mulher amei a terra amei o mar/ amei muitas coisas que hoje me é difícil enumerar/ De muitas delas de resto falei”, escreveu.

Cada um dos volumes lançados pela 7Letras, numa colecção organizada pelo escritor e crítico Manoel Ricardo de Lima, terá um prefácio de um poeta brasileiro diferente, procurando fazer a ponte entre o autor português dos anos 1960 e 70 e o leitor brasileiro contemporâneo.

Para o autor de um desses prefácios (o de Boca Bilíngue), Tarso de Melo, é urgente que os grandes poetas portugueses da segunda metade do século XX, com destaque para Belo, Sophia de Mello Breyner e Herberto Helder, sejam conhecidos no Brasil. “Esses autores são capazes de nos fazer rever não apenas a forma como nos relacionamos com a poesia portuguesa, mas com nossa própria poesia”, escreve o também poeta, lembrando que em Boca Bilíngue, Belo, então com 33 anos, demonstra o seu desencanto com um país mergulhado na ditadura do Estado Novo.

É por isso que nele podemos ler poemas como Morte ao meio-dia, com versos assim: “No meu país não acontece nada/ o corpo curva ao peso de uma alma que não sente/ Todos temos janela para o mar voltada/ o fisco vela e a palavra era para toda a gente”.

 

 

 

 

 

 
 

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