As cagarras já ouviram falar da troika?
O PREC não correu mal de todo. O país não tinha dinheiro mas estava eufórico com a democracia. Podia ter sido uma tragédia. Mas no fim ficaram todos amigos. Como se fosse um filme com António Silva e Vasco Santana.
O PNEC não se sabe. Como nos idos de 1975, conspira-se em surdina. Já não é preciso contar espingardas, como quando existiam o grupo dos Nove e o COPCON. Mas é preciso contar com a troika.
Em período revolucionário ou em período negocial, o Presidente é decisivo. Mesmo sem Chaimites na rua. Ao presidente do PREC, Francisco Costa Gomes, chamavam o Chico Cortiça.
Era suspeito de estar feito com um dos lados (o gonçalvismo), mas no fim colheu os louros de ter evitado uma guerra civil. Na verdade, era suspeito de estar feito com todos os lados. Por isso flutuava sempre.
Já no tempo do PREC, o equilíbrio do regime era objecto de uma metáfora flutuante. O Presidente do PNEC manteve o rumo da metáfora mas foi mais longe. Em vez de ficar a boiar no palácio de Belém, decidiu rumar às Selvagens e lá pernoitar.
Cada um escolhe a sua maneira de ficar na história.
O Presidente do PREC era como um submarino sob as águas do processo revolucionário.
O Presidente do PNEC quer fazer um gesto grandiloquente: ao mesmo tempo que na Pátria os partidos do regime se esgatanham para conseguir um acordo (enquanto um deles vota uma moção de censura contra os parceiros de negociação), desfralda as velas rumo às ilhas remotas, da qual se diz que são ilhas e não rochedos por serem habitados pelas cagarras.
Ficará na história por esse gesto ousado de Presidente rei que abala sereno e confiante no êxito da empreitada de alto risco que é o PNEC, quiçá fruto da navegação à vista nos mares conturbados da crise.
Qual descobridor solitário, descansará nos confins da pátria, sozinho com as estrelas, as cagarras e o navio Gago Coutinho (que, não será certamente por acaso, é um navio da classe D. Carlos I).
Vai em paz: para monitorizar a garotada dos partidos deixou em terra um tutor, o antigo ministro da Educação, David Justino, que fiscalizará a algazarra partidária. É sempre bom haver adultos por perto. E ai de quem pronunciar a palavra irrevogável!
Por mares nunca antes navegados segue o nosso Presidente. O PNEC está em marcha, e ele desejando um final feliz, pernoita nas Selvagens. Se está ou não confiante, nem às cagarras confessará.
Quando regressar, saberemos se pode ou não continuar a boiar como cortiça, ou se irá ao fundo, como chumbo. A tendência portuguesa é para boiarem todos. No PREC como no PNEC.
Se já era assim quando era preciso contar espingardas, assim continuará quando é preciso deitar contas à troika.
Mas será que as cagarras já ouviram falar na troika?