Depois de uma menção especial em Berlim e de uma passagem pela competição do IndieLisboa, a primeira longa-metragem de João Viana, antigo assistente de Paulo Rocha, chega discretamente a sala pela calada do Verão. Invocando os fantasmas do Portugal colonial e as tradições ancestrais africanas, A Batalha de Tabatô é uma combinação curiosa, francamente ingénua, de ficção e documentário, centrada na aldeia guineense de Tabatô, espécie de “capital musical” dos ritmos locais. A ela regressa um emigrante assombrado pelas suas experiências na guerra colonial para assistir ao casamento da filha com um músico; a “batalha” do título é uma metáfora para a luta interior de Baio entre os espíritos do bem e do mal, da música e da guerra, da tradição e da civilização. Tudo isto é contado de modo algo canhestro, sugerindo uma vontade de cinema maior do que o orçamento ou os meios técnicos permitiam; as limitações técnicas são de tal modo evidentes que A Batalha de Tabatô está sempre à beira de tombar no amadorismo esforçado e no exotismo turístico. O que o salva desse destino é a sinceridade, o entusiasmo, o interesse e a curiosidade genuínos por este mundo tão distante do nosso, e uma vontade de o observar sem forçosamente procurar explicar ou compreender, antes partilhar e assistir; uma sensação de “feliz acaso”, de um filme que se vai organizando e construindo aos nossos olhos. Se isso é deliberado ou apenas aconteceu, só futuras obras de Viana poderão explicar; para já, A Batalha de Tabatô tem qualquer coisa lá dentro que seduz e que não se explica facilmente.
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