CGTP reclama “forte adesão” à greve geral no sector privado

Primeiro balanço da Intersindical dá conta de empresas com “produção completamente parada”.

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Arménio Carlos esteve durante a manhã na Autoeuropa, onde a produção está paralisada Rui Gaudêncio

Os números são da CGTP, que ainda antes das 6h fez o primeiro balanço da greve geral. A Intersindical debruçou-se sobre as empresas privadas que trabalham de forma contínua e diz que, “de um modo geral”, “têm a produção completamente parada”.

“Nas empresas do sector privado, em regime de laboração contínua, a adesão dos trabalhadores afectos aos primeiros turnos situa-se a níveis muito elevados”, lê-se no comunicado da CGTP, que elenca logo abaixo 29 casos de empresas e sectores específicos de empresas com adesões à greve que variam entre os 60% e a paralisação total.

A greve geral foi convocada pela CGTP e a UGT contra as medidas de austeridade e a “intransigência” do Governo. Esta é a quarta vez, desde o 25 de Abril, que as duas centrais sindicais se juntam em greve geral. É ainda a segunda que o actual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, enfrenta. Aliás, é o primeiro governante da democracia a enfrentar duas greves gerais convocadas pelas duas centrais sindicais.

Não há serviços mínimos definidos para a CP, Metro de Lisboa, Transtejo e Soflusa. Por isso, as empresas avisaram os clientes de que será difícil chegar ao trabalho através destas redes de transportes. No Porto, a STCP garante serviços mínimos e no metro a circulação será “bastante” afectada (veja em baixo que transportes estão assegurados).

Esta é a quarta vez, desde o 25 de Abril, que a CGTP e a UGT se juntam em greve geral. É ainda a segunda que o actual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, enfrenta. Aliás, é o primeiro governante da democracia a enfrentar duas greves gerais convocadas pelas duas centrais sindicais.

A Intersindical indica que entre as empresas do complexo industrial da Autoeuropa há uma “paralisação da produção” (sem avançar números). Na própria Autoeuropa, no parque industrial de Palmela, a adesão é de 94%. Na central de resíduos sólidos da Valorsul, a paralisação é “total”, com uma adesão de 95%; no aterro sanitário, é de 86% (“encerrado”).

A nota de “produção parada” acompanha os números de adesão à greve geral da Euroresinas Sonae Industria, em Sines, do sector das bebidas da Centralcer (90%), do sector da cerâmica da Cobert Telhas (75%) e das empresas com paralisação de todos os trabalhadores do primeiro turno.

A CGTP dá ainda conta das situações da Portalex, em Sintra (com uma adesão de 75% no sector metalúrgico); da Gros Beckert, em Vila Nova de Gaia (60% no sector metalúrgico); da Unitrato (sector da restauração do Aeroporto de Lisboa – 85%); da Visteon, em Palmela (65%); da Cerdomus, em Aveiro (68% no sector da cerâmica); da Sakhit, na Maia (70% no sector metalúrgico); na Tudor/Exide (70% no sector eléctrico); na EPAL (86% nos Olivais e 75% no Vale da Pedra); e na Impormol (97%).

Em Braga adesão entre os 60 e 80%

É sobretudo nos serviços públicos que a greve geral se faz sentir no distrito de Braga, mas o protesto tem um impacto superior ao habitual em várias empresas privadas. Há um grande espaço comercial encerrado e três das principais unidades industriais da região com níveis de adesão à greve entre os 60 e 80%.

Os sectores tradicionais são aqueles em que a greve tem mais impacto no sector privado. Na têxtil Outeirinho, em Guimarães, uma das maiores do vale do Ave, apenas 20% dos trabalhadores estão ao serviço, ao passo que na Teartil, outra têxtil vimaranense, o nível de adesão à greve ronda os 60%. Em Braga, a metalúrgica Jado Iberia tem 68% dos funcionários em greve, ao passo que na Bosch o nível de adesão está nos 40%.

Os dados são da União de Sindicatos de Braga, uma estrutura afecta à CGTP, que está a classificar a Greve Geral desta quinta-feira como “a maior de sempre” no distrito. O nível de adesão maior do que o habitual nas empresas privadas é visível ainda no facto de o espaço comercial Moviflor em Braga estar encerrado por falta de pessoal e na Tecniwood, uma empresa de madeiras, os trabalhadores em greve quase total ao serviço estão concentrados à porta da empresa.

Como nas últimas greves gerais, os sectores públicos são, ainda assim, os mais afectados no distrito de Braga. A empresa intermunicipal de ambiente Agere tem 100% de adesão ao protesto em todos os seus sectores, a recolha de resíduos sólidos em Braga, Barcelos e Guimarães também foi atingida por uma paralisação total dos trabalhadores, ao passo que, em Famalicão, o nível de adesão neste sector ficou pelos 58%.

EDP e refinaria pararam em Sines

A União de Sindicatos de Sines (USS) adiantou ao PÚBLICO que os níveis de adesão à greve no sector privado são “bastante significativos” comparativamente com a anterior paralisação do género.

Os primeiros dados recolhidos pela USS referem que na EDP os níveis de paralisação oscilam entre os 70 e 80 por cento. Na Refinaria de Sines e em relação aos trabalhadores do consórcio de manutenção a adesãoatinge os 90 por cento. No porto de Sines apesar do número de grevistas não ser muito elevado, os que aderiram “congestionaram” a actividade portuária, obrigando a desviar alguns navios para o porto de Setúbal que “está encerrado” adiantou o dirigente sindical Egídio Fernandes. Na Auto-Europa os índices de participação à greve foram de 90 por cento e a Euroresinas em Sines “está praticamente parada”.

No sector mineiro e na Mina da Panasqueira, cerca de 90 por cento dos que ali trabalham paralisou, mas nas minas de Aljustrel e Somincor os níveis de adesão à greve baixaram para 10 por cento. Jacinto Anacleto, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira espera que os índices de participação na greve “subam” nos turnos da tarde e da noite.

A nível autárquico, os dados disponibilizados pela União de Sindicatos do Distrito de Beja adiantam que no município de Castro Verde o nível de paralisações foi de 98 por cento e em Serpa, atingiu os 100 por cento. Na Câmara de Beja “ a maior parte dos serviços” aderiu à greve revelou o dirigente sindical, Miguel Quaresma.

Centrais unidas pela crítica

Os secretários-gerais da UGT e CGTP encontraram-se na noite de quarta-feira no centro de recolha de lixo de Lisboa, nos Olivais. Os dois estavam a falar com sindicalistas, separados por poucos metros, fingindo não se reconhecerem, quando Carlos Silva soltou um: “Ai ele está cá?” E dirigiu-se para Arménio Carlos, ao mesmo tempo que alguém gritava “ele não foge”. Os dois cumprimentaram-se perante as câmaras e trocaram declarações de circunstância.

“Vai ser uma grande greve”, disse Arménio Carlos. “Convergência é isto”, acrescentou Carlos Silva.

A poucos metros de distância, João Semedo, um dos coordenadores do Bloco de esquerda, também falava à imprensa, num verdadeiro engarrafamento político-mediático.

“Os trabalhadores é que são os protagonistas”, disse Arménio Carlos, elencando alguns problemas dos trabalhadores de recolha de lixo, nomeadamente o facto de ser uma profissão de desgaste rápido.

Depois virou-se para Carlos Silva e disse: “Vou agora para a CP. Passe uma noite boa”. Os dois concordaram que vai ser uma grande greve geral.

Antes, os dois líderes sindicais tinham sido interpelados pelos jornalistas a propósito das declarações de Pedro Passos Coelho, no Parlamento (“o país precisa menos de greves e mais de trabalho”). Arménio Carlos respondeu ao primeiro-ministro, afirmando que “esta greve geral é pela defesa do trabalho” e acusou Passos de estar a destruir o emprego em Portugal, referindo existir um milhão e meio de pessoas sem emprego no país.

Carlos Silva disse que o primeiro-ministro fez um discurso que “é anterior ao 25 de Abril e não se compagina com a democracia que temos há 40 anos”. 
 
 

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