No Afeganistão o futebol é um reality show
Os telespectadores votam nos futebolistas que gostariam de ver a disputar o campeonato afegão.
Num país devastado por anos de conflito, em que faltam as mais básicas infra-estruturas, a Federação afegã de futebol encontrou patrocinadores e colocou de pé uma competição. Uma empresa de telecomunicações dá nome ao torneio e um grupo de media dinamiza a parte de gestão e marketing da prova. O site da Premier League afegã tem uma versão inglesa, é razoavelmente completo e no YouTube oficial estão disponíveis os jogos na íntegra.
Maidan-e-Sabz (Relvado) é o nome do programa por trás do campeonato. Foram definidas oito regiões no Afeganistão e em cada uma realizaram-se treinos de captação. Um júri constituído por técnicos da Federação e os votos dos telespectadores ajudaram a definir o plantel de cada região. Foram milhares as candidaturas recebidas pelo programa, e os aspirantes a futebolistas foram submetidos a uma série de testes físicos, mentais e, claro, futebolísticos. Um deles, contava na altura a Al Jazeera, incluía correr em lama ou água com pesos nos tornozelos, e a seguir cabecear uma bola.
As oito equipas competiram numa fase final, da qual emergiu vencedor o Toofan Harirod. Numa final realizada em Cabul, perante mais de quatro mil adeptos, a equipa que representa a região ocidental do Afeganistão bateu o Simorgh Alborz por 2-1. E recebeu um troféu, para além de um prémio de 15 mil dólares.
No final, o balanço era positivo: “A Premier League afegã 2012 foi o maior e mais importante evento alguma vez organizado no Afeganistão, transcendendo todas as barreiras geográficas, étnicas, de género e de língua”, podia ler-se no site oficial.
Para 2013 estão prometidas novidades, com um campeonato dividido em três fases: uma pré-Maidan-e-Sabz, que constará de torneios locais, para selecção dos 26 jogadores da equipa que representará a região. Segue-se o Maidan-e-Sabz propriamente dito, durante o Ramadão, que servirá para reduzir os plantéis de 26 para 18 jogadores – o corpo técnico de cada equipa escolherá os 15 melhores, e os votos dos telespectadores definirão os restantes três. Por fim, tal como em 2012, há a fase final: dois grupos de quatro equipas, com os dois primeiros de cada agrupamento a cruzarem-se nas meias-finais, que decidem os finalistas.
“Há oito anos o futebol afegão estava praticamente morto”, admitiu há pouco tempo o presidente da Federação, Keramuddin Karim. Mas o investimento tem compensado e, a pouco e pouco, as coisas vão mudando: em Abril, a selecção atingiu a melhor posição de sempre no ranking da FIFA, ao subir ao 139.º lugar. Para os dirigentes, o céu é o limite. “Em 2013, a Federação fez uma aposta forte no desenvolvimento do futebol. Queremos formar 200 treinadores e 800 jogadores por ano. Este programa tem em vista o Mundial 2022, no Qatar, onde o Afeganistão quer estar presente com uma selecção nacional forte”, sublinhou o secretário-geral federativo, Sayed Ali Reza Aghazada Sadat. Sonhar não custa.
* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos