Para os alunos do 6.º ano da Quinta de Marrocos o exame de Português era fácil

PÚBLICO foi ouvir alunos à saída de escola em Lisboa.

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Escola Básica Integrada da Quinta do Marquês José Sarmento Matos
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Alunos à saída do exame desta manhã, em Lisboa José Sarmento Matos

Telma Rosa estranha a filha não ter saído ao toque dos 90 minutos: “Costuma ser muito despachada, mas não estou muito preocupada, preocupo-me mais com o de Matemática.” Os seus olhos continuam fixos no pátio da escola.

Começam a chegar os que conseguiram cumprir o tempo regulamentar. São meninos e meninas de 11 e 12 anos, que fazem pela primeira vez um exame na vida. As provas de aferição, extintas, não contavam para a avaliação, pelo que este é um momento importante para os alunos do 6.º ano. Mariana Ganhão, de 12 anos, revela: “Estava nervosa no início, mas depois quando comecei a fazer passou-me o nervosismo. Pensava que fosse mais difícil. Saiu tudo o que eu tinha estudado, fui bem preparada.”

Francisco Pires, de 11 anos, tentou não estudar na véspera porque “não resulta”, mas foi bem preparado, à semelhança de Mariana. “Foram muitas horas de estudo, sobretudo ao longo da última semana. A stôra preparou-nos para o exame e acho que nos preparou bem”, diz com serenidade. O mais difícil? Não se recorda de nada que possa ter sido difícil no exame, talvez a composição, embora fácil, tenha custado um bocadinho mais por só gostar de escrever “mais ou menos”. “O tema era imaginarmos que estávamos a ler um texto e que depois encontrávamos a principal personagem na biblioteca”, conta Francisco.

Entre alunos e familiares, o burburinho cresce à porta da Quinta de Marrocos. Todos comentam o exame e Eduardo Correia, de 12 anos, é um deles. Traz na mão uma folha de rascunho em branco, carimbada pela escola. “Por acaso até correu melhor do que estava à espera. Matéria simples, as perguntas eram poucas, era muito fácil.”

Cláudia Silva, 29 anos, é uma mãe diferente. Fala com o filho, Fábio Madeira, de 12 anos, através de gestos. Diz-nos que o exame correu bem e que Fábio fez a prova, à semelhança dos seus seis colegas surdos de turma, numa sala especial. A escola integra uma das maiores comunidades de alunos surdos de Lisboa.

São 11h30, mas não se ouve o toque do fim da tolerância. Alguém recorda que se dão mais cinco minutos extra para o preenchimento do cabeçalho do exame. Há pais mais nervosos do que os filhos. Telma Rosa continua a perscrutar o horizonte. Maria Branco destaca-se, por fim, entre os colegas que a acompanham a cruzar o pátio até à entrada da escola. Tem cerca de 1,70 metros e apenas 13 anos. Telma respira de alívio. Maria confirma o que já todos disseram antes. “Não foi nada difícil. Saiu só um bocadinho da matéria que foi dada ao longo do ano. Mas também porque parte já vinha do 5.º ano”, explica Maria.

Afinal a despachada Maria podia ter saído aos 90 minutos, se não fosse a composição. “O mais difícil foi a parte da escrita, porque era para escrever até 200 palavras, mas depois tinha de se contar as palavras todas! Por causa disso acabei por ficar mais cinco minutos depois do tempo, e por isso fiquei mais meia hora… Mas aproveitei para rever o texto”, revela, com um suspiro.

Exame antecipado, exame abençoado
Todos são unânimes no que toca à antecipação do exame nacional de Matemática para dia 26. É uma boa ideia, a melhor que se podia ter tido, de acordo com os pais que falaram com o PÚBLICO, à porta da escola. Adiar só poderia trazer mais inconvenientes para as famílias que já têm as suas vidas decididas a partir de 27 de Junho. Francisco Pires, 11 anos, dá a sua opinião: “Acho muito bem, porque há pessoas que já podem ter marcado férias. Eu, por exemplo, vou para os Açores no dia 28. Acho que se adiassem ia irritar muita gente.”

Mas não só, adiar o exame poderia também influir no estado psicológico de muitos alunos. “Os miúdos já estão mais do que saturados do ano lectivo e, parecendo que não, isto para eles é enervante, tal qual é para nós, pais. Eles não vão aprender mais do que já aprenderam. É preferível ser antes do que depois”, desabafa a mãe de Mariana Ganhão.

Quem não tem ainda a certeza se a antecipação da data é benéfica para o seu filho é Cláudia Silva. Não por ser surdo, mas por Fábio pertencer a uma turma que ficou sem professora de Matemática entre Fevereiro e Maio. “Desde o Carnaval que ele praticamente não tem aulas. A professora deu uma queda e não puseram ninguém a substituir. Foi feito um requerimento para a DREL, mas só em Maio é que puseram alguém a dar apoio a Matemática”, conta Cláudia com apreensão. “Ou seja, este exame [da semana que vem] é crucial. Se ele tirar negativa, está sujeito a chumbar o ano por um erro. E provavelmente será a turma toda dele também a chumbar. Uma turma especial de alunos surdos.”
 
 
 
 

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