Fala-se tanto em recessão, depressão, na emigrição e falta de pão. E porque não a agricultura?
Nesta altura de crise económica, em que ter um curso superior ou qualquer outro está longe de garantir emprego, a agricultura é uma alternativa a ser pensada, principalmente para quem não quer ou pode “mandar-se” lá para fora.
Com tantos terrenos por cultivar e com a importação desnecessária de produtos que poderíamos cultivar por cá, a agricultura deveria ser mais explorada, e continua a ser a única actividade capaz de combater a desertificação e uma importante contribuição para dizermos adeus à crise.
‘Há zonas do país sem jovens agricultores há mais de 20 anos e a agricultura tem muito para dar. Ela é a coluna vertebral do mundo rural’, diz Firmino Cordeiro, presidente da AJAP (Associação dos Jovens Agricultores de Portugal).
Nestes últimos anos, um jovem empreendedor com vontade de trabalhar a terra, com uma ideia de negócio, e que esteja disposto a pegar na enxada e “bater punho” (como nos diz vezes sem conta Miguel Gonçalves), apesar de tudo, começa a ter cada vez mais condições para o fazer.
No país da União Europeia com menos jovens agricultores, onde existem alguns incentivos de entidades como o Programa de Desenvolvimento Rural (ProDer), dão o mote a iniciativas que ocupem os campos a monte e mobilizem a agricultura. Ainda que estes incentivos sejam instáveis, muito depende do projecto, da vontade de sujar as mãos na terra e da coragem de assumir este caminho e deixar o “conforto” da cidade.
Na verdade, cada vez mais se houve falar deste regresso ao campo e às origens e do crescente número de jovens que trocam o sofá pelo trabalho rural. Estes projectos agrícolas, alguns de sucesso, a pouco e pouco contribuem para revitalizar e dinamizar as zonas rurais do país, contrariando a ideia de “ruralidade como qualquer coisa do passado sem futuro”, uma das “utopias” de Gonçalo Ribeiro Telles, o agora merecido “Nobel” da Arquitetura Paisagista, que afirma também que a recuperação das aldeias “tem de passar pelo restabelecimento da agricultura local”.
Produções agrícolas rentáveis como a do mirtilo e frutos vermelhos, cada vez mais procurado pelos países Nórdicos, cogumelos, kiwis, aromáticas e medicinais, plantas ornamentais, árvores de fruto, vinha e vinho e outras menos conhecidas como a do physalis ou açafrão-das-índias são algumas das grandes apostas feitas pelos jovens.
No entanto, Luís Saldanha Miranda da CNJ, espera que “as pessoas não se atirem só por causa conjuntura, porque têm terras de família e, depois, mal a conjuntura económica melhore sejam os primeiros a abandonar”. Apesar de esta ser uma alternativa aliciante ao desemprego, este projecto de vida não deveria ser considerado como um negócio da “moda”, porque agora o que está a dar é ir viver para o campo.
O “saudoso” Miguel Relvas, que dizia que o desemprego jovem lhe tirava o sono, tinha razão numa coisa: “Não nos devemos resignar a um país desertificado e envelhecido”. Talvez ele, queira agora também, dedicar-se à agricultura.