Cada vez mais se fala de sustentabilidade, como se a simples aplicação desta palavra a seguir a qualquer outra fosse o suficiente para tornar qualquer acção politicamente correta ou amiga do ambiente.
Por estar na moda, usa-se esta palavra por tudo e por nada. Até a "moda sustentável" é a nova tendência da moda. É muito fácil rotular qualquer coisa como sustentável, principalmente quando se toca a questões ambientais e ecológicas.
Primeiro é importante perceber que a origem da banalidade desta palavra deve-se à triste consequência da atual necessidade de resolver os problemas ambientais causados pelo Homem nos últimos séculos.
Campanhas publicitárias da Greenpeace e documentários inspiradores como a Verdade Inconveniente do Al Gore, não desvalorizando a sua importância, acabam por levar a uma esquizofrenia generalizada, cujo efeito real não é mais do que uma simples ‘partilha’ nas redes sociais daquele vídeo de 5 minutos com banda sonora do Sigur Rós sobre a desflorestação na Amazônia ou o aquecimento global, no qual finaliza com a importância de mudar o mundo.
A palavra sustentabilidade, hoje, serve para limpar a consciência das nossas acções e cada vez mais utilizada como uma estratégia de "marketing" - "greenwashing" – para "lavarmos as mãos" do mal feito.
A palavra sustentável e "green" usa-se de maneira banal para dar uma imagem "eco-friendly" que não existe ou serve para "deixar passar" medidas policamente e ambientalmente perigosas (A Barragem do Tua chama-se agora Parque Natural Regional do Tua?!).
Agricultura nas cidades
À escala do meio urbano, esta palavra é cada vez mais utilizada duma forma irresponsável. A "sustentabilidade" nestes casos ajuda a vender o novo empreendimento construído à beira-mar, sendo que poucas ou nenhumas medidas são tomadas para a justificar - mas é amigo do ambiente!
Uma construção que pretenda ser sustentável, não deve ser feita de uma forma egoísta, esquecendo o seu contexto na cidade, como se tudo fosse restringido aos limites da sua fundação. As conexões com a envolvente, sejam elas ambientais, de mobilidade ou de interacção com os restantes elementos da cidade, são as primeiras a determinar as condições para a sua sustentabilidade. No nosso país, esta questão, foi, e continua a ser contornada vezes sem conta…
Estratégias que permitam o desenvolvimento sustentável das cidades são fundamentais para a sua valorização. Devem ser lembradas medidas como o desenvolvimento de hortas urbanas e da prática agrícola nas cidades, há muito falado por Ribeiro Telles, a criação de parques públicos de qualidade, a implementação de coberturas verdes nos edifícios, a promoção da vida ao ar livre e a recriação no espaço público. Estes princípios promovem a melhoria da qualidade de vida e criam o fundamental sentido de identidade para com a cidade, muitas vezes esquecido.
Importante relembrar que a cidade não é unicamente um espaço onde se habita… deverá ser um espaço vivo onde exista uma constante dinâmica e envolvência das pessoas e que permita uma plena vivência da cidade e dos seus espaços, mesmo que seja “necessário reinventar o espaço público”, como diz Nuno Portas. Conhecer os reais princípios de sustentabilidade, e aplicá-los de uma forma transparente e responsável, deve partír de todos. A nossa acção deveria levar à transformação da cultura e da nossa maneira de ver, pensar e estar na cidade.
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