Ao pé de Lola ou Kinatay, os filmes que confirmaram a integração do filipino Brillante Mendoza num circuito internacional, Cativos é uma super-produção. Tem dinheiro das Filipinas, mas tem ainda mais dinheiro europeu. E uma vedeta de gabarito “global”, Isabelle Huppert. Mas tudo isto, inclusive a presença de Huppert, revela-se mais um problema do que atributo.
É uma reconstituição de um episódio sucedido nas Filipinas, durante o Verão de 2001. Um grupo de guerrilheiros islâmicos, com intenções separatistas e agindo em nome de Osama Bin Laden (o 11 de Setembro estava por meses), raptou e tomou como reféns algumas dezenas de pessoas, a maior parte dos quais estrangeiros, entre simples turistas e gente que fazia algum tipo de trabalho nas Filipinas. O rapto durou meses e longas caminhadas de ilha em ilha pelas florestas filipinas, e não produziu grande coisa para as intenções dos rebeldes. Pelo contrário, acabou em banho de sangue, precipitado pela incompetente intervenção do exército filipino, que não se mostrou extraordinariamente interessado em proteger os reféns.
Esta evocação da “porosidade” das Filipinas, que no mesmo passo assinala as divisões internas do seu vasto território e o rasto do colonialismo e da permeabilidade do país às mais diversas influências estrangeiras, aproxima Cativos dos filmes de outro filipino, Raya Martin, também tornado coqueluche do circuito dos festivais, que tem tomado a persistência de um legado colonial como centro temático dos seus filmes. Mas Cativos é um filme singularmente esparso, a que falta um ponto de vista forte, temático mas também formal, que seja capaz de definir um olhar sobre tudo, das situações às personagens e às implicações de toda a história. Falta que não é remediada pela opção - que parece apenas semi-deliberada - de adoptar um registo “jornalístico”, neutro, que quer evitar o maniqueísmo sem transformar os guerrilheiros em monstros terroristas nem revelar especial compaixão pelos reféns, porque essa “neutralidade” resulta mais em indiferença do que noutra coisa. As melhores cenas são aquelas que têm um centro dramático forte e definido, quase em “suspense” (por exemplo, uma cena num hospital de província, com um parto). As relações entre cativos e captores tendem para o “síndroma de Estocolmo”, e a convivência entre todos é um dos dados que Mendoza quer trabalhar. Mas sempre em meias-tintas, sem real interesse pelas personagens. A propósito delas, Huppert, uma missionária francesa apanhada neste remoinho: desequilibra o filme, claro, porque sendo a presença mais reconhecível torna-se numa indicação constante de para quem e para onde se deve olhar a todo o momento. Não só não se ganha uma personagem (que permanece tão enevoada como as outras) como se quebra a ambiguidade que poderia haver, e que talvez se pretendesse que houvesse, no olhar de Mendoza sobre todos, reféns e raptores.