Jornalista entrou na pele dos sem-abrigo e morreu numa noite fria em Newcastle
Lee Halpin tinha 26 anos e a vontade de "chegar ao coração de uma história" como jornalista e realizador de documentários no Reino Unido. Pensava a estar a ajudar a causa dos sem-abrigo. Polícia investiga a sua morte na rua.
Orgulhava-se da sua ideia e dizia ser movido por uma tentativa de “chegar ao coração duma história”, e assim abordar a questão – uma das colocadas na candidatura ao emprego – de um “jornalismo sem medo”.
É o que conta num vídeo filmado ainda na sua casa, na véspera de partir para essa aventura que, nos seus planos, duraria uma semana, mas foi tragicamente interrompida três dias depois.
Lee Halpin foi encontrado morto na quarta-feira à noite, numa rua de Newcastle, no Nordeste da Inglaterra, onde vivia. Tinha 26 anos. A polícia britânica anunciou, este sábado, estar a investigar a sua morte e disse ter interpelado dois homens suspeitos de venderem drogas. Mas a hipótese de hipotermia não está excluída, tendo o seu projecto coincidido com uma das semanas mais frias no país, refere a AFP.
O frio era uma das condições dos sem-abrigo e Halpin no vídeo dizia querer entrar na vida de um sem-abrigo. Família e amigos elogiavam a sua "coragem", conta ainda no vídeo, num momento em que a questão dos sem-abrigo no país se estava a tornar premente. O Channel 4 lamentou a "morte trágica de um jovem jornalista em formação".
Na declaração visionada que apresenta como um preâmbulo do projecto, Lee Halpin explica ainda que se tornou mais sensível a esta questão depois de tomar conhecimento que o número de pessoas a dormirem na rua na Grã-Bretanha crescera em 31% neste último Inverno e que novos aumentos eram esperados com o agravamento da crise.
“Para mim, é particularmente claro que a situação dos sem-abrigo está a tornar-se política, social e culturalmente relevante no Reino Unido, sobretudo no Nordeste” – são algumas das últimas palavras de Halpin. “Estou prestes a passar uma semana como sem-abrigo (…), a imergir nesse estilo de vida da forma mais profunda que me for possível.” Sem saber, Halpin estava a proferir palavras de despedida.