A moção cumpriu. Sem mais
Exceptuando os discursos de arranque de Passos Coelho e de encerramento, a cargo de Paulo Portas, o Governo e os deputados da maioria pareceram apáticos na defesa da sua dama. O que reflectia também a pobreza da argumentação apresentada por sociais-democratas e centristas.
Seguro tinha vários pequenos combates a vencer. Fez um bom discurso de apresentação da moção, duro e conciso. E precisava disso para fazer boa figura agora que toda a gente diz que o líder da oposição é um novo comentador da RTP. Mas faltou-lhe o aplauso mais convicto da sua própria bancada.
O secretário-geral do PS também tinha de ter um plano e esse plano precisava de passar pela renegociação do memorando ou não iria além de um sortido de medidas avulsas.
E precisava de sair de São Bento com o pleno do voto da esquerda, de novo para desafiar o papel de agregador da esquerda que um novo comentador da RTP se propõe realizar. Alcançou esses dois objectivos.
O ponto fraco foi a carta à troika. Acusado de ser duro em casa e mole com os credores externos, Seguro precisava de ter divulgado o conteúdo da missiva antes do debate.
O Governo ficou-se por uma postura defensiva. Argumentou que o PS não tinha legitimidade para apresentar a moção e que esta era inoportuna – de algum modo, as moções de censura são sempre inoportunas.
Mas não foi convincente a defender as suas próprias políticas e as razões para continuar a governar. Disse apenas que são as únicas possíveis e que se as coisas estão mal a culpa é do PS. É pouco.
Não se pode dizer, como insinuou o PS, que a moção de censura pôs fim à legitimidade do Governo. Nem sequer que foi uma certidão de óbito. Aliás, é bem possível que o Governo até já esteja morto, mas António José Seguro está inocente.
A ideia, de resto, era mais que fosse uma prova de vida do maior partido da oposição e do seu líder. Nesse sentido, a moção de censura cumpriu. Mas não mais do que isso.